segunda-feira, 23 de abril de 2012

Alquimia

A Alquimia, precursora da química e da medicina, é o nome dado à ciência praticada na Idade Média, que se baseava na idéia de que todos os metais evoluem até virar ouro. Os alquimistas tentavam acelerar esse processo em laboratório, por meio de experimentos com fogo, água, terra e ar (os quatro elementos), empenhados principalmente na descoberta de uma "pedra filosofal", capaz de transformar tudo em ouro.

Essa busca incluía não só as experiências químicas, mas também uma série de rituais. A filosofia Hermética era um dos seus alicerces, assim também como partes de Cabala e da Magia. A magia é a primeira das ciências e a mais caluniada de todas, porque o vulgo obstina-se em confundir a magia com a bruxaria supersticiosa cujas práticas abomináveis são denunciadas.

A Alquimia tomou emprestado da Cabala todos os seus signos, e era na lei das analogias, resultantes da harmonia dos contrários, que baseava suas operações.

Ao longo do tempo, diversos alquimistas descobriram que a verdadeira transmutação ocorria no próprio homem, numa espécie de Alquimia da Alma; diversos outros permaneceram na busca sem sucesso do processo de transformações de metais menos nobres em ouro; afirma-se que alguns mestres atingiram seus objetivos.

A alquimia também preocupava-se com a Cosmogonia do Universo, com a astrologia e a matemática. Os escritos alquímicos, constituíam-se muitas vezes, de modo codificado ou dissimulado, daí, talvez a conotação dada ao termo hermético ( fechada), acessível apenas para os iniciados.

A palavra alquimia, do árabe, al-khimia, tem o mesmo significado de química, só que, esta química, antigamente designada por espargiria, não é a que atualmente conhecemos, mas sim, uma química transcendental e espiritualista. Sabe-se, que al, em árabe, designa Ser supremo o Todo-Poderoso, como Al-lah. O termo alquimia, designa desde os tempos mais recuados, a ciência de Deus, ou seja a química de Al.

A alquimia é a arte de trabalhar e aperfeiçoar os corpos com a ajuda da natureza. No sentido restrito do termo, a alquimia sendo uma técnica é, por isso, uma arte prática. Como tal, ela assenta sobre um conjunto de teorias relativas à constituição da matéria, à formação de substâncias inanimadas e vivas, etc.

Para um alquimista, a matéria é composta por três princípios fundamentais, Enxofre, Mercúrio e Sal, os quais poderão ser combinados em diversas proporções, para formar novos corpos.

No dizer de Roger Bacon, no Espelho da Alquimia, «...A alquimia é a ciência que ensina a preparar uma certa medicina ou elixir, o qual, sendo projetado sobre os metais imperfeitos, lhe comunica a perfeição...»

A alquimia operativa, aplicação direta da alquimia teórica, é a procura da pedra filosofal. Ela reveste-se de dois aspectos principais: a medicina universal e a transmutação dos metais, sendo uma, a prova real da outra.

Um alquimista, normalmente, era também um médico, filósofo e astrólogo, tal como Paracelso, Alberto Magno, Santo Agostinho, Frei Basílio Valentim e tantos outros grandes Mestres hoje conhecidos pelas suas obras reputadas de verdadeiras.

Cada Mestre tinha os seus discípulos a quem iniciava na Arte, transmitindo-lhe os seus conhecimentos. Além disso, para que esse conhecimento perdurasse pelos tempos, transmitiram-no também por escrito, nos livros que atualmente conhecemos, quase sempre escritos sob pseudônimo, de forma velada, por meio de alegorias, símbolos ou figuras.

É isto que dificulta o estudo da alquimia, porque esses símbolos e figuras não têm um sentido uniforme. Tudo era, e atualmente ainda é, deixado à obra e imaginação dos seus autores.

A transmutação de qualquer metal em ouro, o elixir da longa vida são na realidade coisas minúsculas diante da compreensão do que somos. A Alquimia é a busca do entendimento da natureza, a busca da sabedoria, dos grandes conhecimentos e o estudante de alquimia é um andarilho a percorrer as estradas da vida.

O verdadeiro alquimista é um iluminado, um sábio que compreende a simplicidade do nada absoluto. É capaz de realizar coisas que a ciência e tecnologias atuais jamais conseguirão, pois a Alquimia está pautada na energia espiritual e não somente no materialismo e a ciência a muito tempo perdeu este caminho.

A Alquimia é o conhecimento máximo, porém é muito difícil de ser aprendida ou descoberta. Podemos levar anos até começarmos a perceber que nada sabemos, vamos então começar imediatamente pois o prêmio para os que conseguirem é o mais alto de todos.

A Alquimia é uma Arte que se utiliza de grande número de símbolos, e por isso mesmo muitas vezes há referencias a ela com o nome de  Ars Symbollica.  O grande símbolo da Alquimia é a borboleta, por causa do efeito da metamorfose. Um dos símbolos que mais aparecem nos trabalhos de Alquimia é a figura do hermafrodita, ou andrógino.

Fonte: www.misteriosantigos.com

Déjà vu

O déjà-vu ou fenômeno do “já visto” é uma ocorrência extremamente interessante, e freqüentemente observável por pessoas sem qualquer vínculo religioso ligado à crença na reencarnação. Trata-se de uma sensação íntima, uma emoção aparentemente inexplicável que surge de uma forma completamente inesperada. Subitamente, uma circunstância qualquer desencadeia algum mecanismo psicológico ou anímico onde a pessoa tem a sensação muito expressiva de que aquilo que observa já conhece ou já vivenciou de uma maneira que não consegue compreender, mas que a emociona sobremaneira.

Algumas ocorrências de déjà-vu se dão quando uma pessoa ao ser apresentada a outra leva um verdadeiro choque e se pergunta: “Onde já a vi? Tenho a nítida sensação de que a conheço.” Posteriormente, fica patente que não houve possibilidade de qualquer contato prévio (nesta vida). No entanto, a emoção permanece muito forte. Evidentemente, não estamos referindo aqui a atração física, que pode coexistir no processo, ou não, mas simplesmente a identificação e familiaridade intensamente sentidas.

Excluindo-se alguns arroubos ou precipitações de julgamento, certos casos de amor ou antipatia a primeira vista têm correlação com o fenômeno do déjà-vu.

Há alguns paranormais que ao reverem certas pessoas, embora em termos desta vida estariam tendo o primeiro contato, recebem um impacto energético tão forte que determina uma ressonância magnética em seus arquivos espirituais, aflorando-lhes reminiscências pretéritas com grande nitidez. Passam a desfilar, em sua mente, quadros, locais e situações conflitantes ou afetivas de um passado longínquo, vivido em comum por aquele que agora vê (revê) pela aparente primeira vez.

Abre-se um canal anímico que permite a drenagem de núcleos energéticos adormecidos pelo esquecimento das vidas anteriores.

O fenômeno de déjà-vu ocorre também relacionado com locais, além de pessoas. A aura energética não é propriedade apenas dos seres humanos, mas, embora não irradiem como foco produtor de emoções, os objetos, residências e cidades têm sua própria “egrégora ”(campo energético que irradia uma vibração), pela imantação energética dos pensamentos dos homens que se relacionaram com aquele ambiente .

A lei de sintonia sempre se verifica ao identificarmos as vibrações que foram muito representativas, em termos de experiência pessoal anterior.

São muito impressionantes os fenômenos de déjà-vu que se verificam por ocasiões de viagens ao exterior, quando o turista de forma repentina e emocionante passa a identificar, em detalhes, um local como fosse de seu conhecimento prévio, naturalmente, sem nunca ter estado no referido local e especialmente quando nunca ouviu falar da existência do mesmo.

Sabemos que, para os adversários da reencarnação outras explicações são utilizadas. Como se não bastasse o inconsciente ser considerado tal qual um saco sem fundo, que, como faz “Papai Noel”, tira de lá qualquer presente desejado pela criança, o inconsciente coletivo seria uma forma de contato entre todos os seres humanos e locais, de tal forma que, pelo mágico intercâmbio universal, uma pessoa poderia sintonizar com qualquer faixa do inconsciente coletivo e receber qualquer tipo de impressão passada ou presente da humanidade...

Parece anedota, mas é real, quando uma criança européia passou a falar chinês arcaico e recordar-se de uma vida pretérita, foi considerada uma explicação o fato de sua mãe, durante a gestação, ter vivido próximo a uma lavanderia chinesa e provavelmente ter captado pelo seu inconsciente coletivo todo aquele conhecimento da língua asiática...

Embora não tenha valor científico algum o que pude observar, não vou conseguir resistir à tentação de narrar uma experiência pessoal vivida pela minha esposa Helena, em junho de 1988.

De Florianópolis, sul do Brasil, sonhávamos em conhecer a Europa que sempre nos atraiu misteriosamente. Eu elegi a Inglaterra como local que desejava visitar. Desde criança um misto de admiração e nostalgia me ligava à Grã-Bretanha bem como aos países nórdicos . Minha esposa expressou desejo de conhecer a Áustria, talvez embalada pelos sons poéticos das valsas vienenses ou mesmo pela ascendência germânica de que era portadora.

Fizemos um roteiro de trinta dias, que optamos por percorrer sozinhos. Ao chegar à Ilha Britânica, após termos passado por outros países, fomos nos apaixonando pela natureza dos campos, a beleza das flores e a arquitetura típica. Quando mais mergulhávamos na profundidade do Interior, mas nos encantávamos. Ao entrarmos em território escocês, as surpresas foram se sucedendo cada vez mais intensamente.

Ao almoçarmos em um vilarejo, Helena teve a primeira forte emoção ao ver as colheres utilizadas no local. Eram mais estreitas que as nossas, no Brasil, e mais côncavas, bem mais profundas mesmo. Emocionada comentou:

-- Ricardo, você se recorda daquela colher defeituosa que eu tenho guardada há mais de 20 anos?

Como todo marido distraído, disfarcei e disse algo como:

-- Sim!?

-- É uma mais comprida e funda que sempre adorava, não sabia por quê. Agora eu sei! Já tive uma assim antes. Veja! É semelhante a estas que usam aqui.

Durante nossa passagem pela região foram ocorrendo diversos fenômenos desse tipo na Grã-Bretanha, mas em especial na Escócia. Os vestidos de padrão floral, muito usados na região, que sempre foram de sua preferência, as cestas de vime para as compras muito utilizadas pelas senhoras, as louças típicas, e assim por diante.

O clímax ocorreria em Perth, cidade que ela jamais tinha ouvido falar até aquele dia. À medida que nos avizinhávamos do Palácio de Scone, ela se mostrava mais emocionada com tudo ao redor. Colocou seus óculos escuros para disfarçar as lágrimas quentes que rolavam pelas faces contraídas pela emoção. Apertava as minhas mãos e dizia baixinho:

-- Ricardo, eu sinto que conheço, mesmo, este lugar!

-- Você está emocionada. Vamos vê-lo mais detalhadamente.

-- Preciso correr por estes campos!

E com seus 38 anos, parecia uma criança feliz ao sair em desabalada carreira pelos bosques que rodeavam o castelo. Voltou depois com o rosto vermelho e os olhos brilhando, como há tempo não a via.

No interior do Palácio de Scone, que mais parecia um castelo, as emoções foram gradativa e significativamente mais intensas: as louças do século XVIII, que lhe pareciam familiares tanto nas cores como nos modelos e sobretudo os quadros nas paredes, dois dos quais a fizeram novamente chorar, acometida outra vez de grande emoção. Tomada de profunda emoção, afirmava que dois quadros não eram originais e que deviam ter sido trocados. Fato que confirmamos posteriormente.

Embora como estudioso da reencarnação fosse para mim uma vivência muito interessante, procurava não induzi-la a conclusões. Comentei:

-- Todas as pessoas que se interessam pelo estudo da reencarnação gostariam de ser no mínimo princesas nas vidas pretéritas... Portanto, é preciso que tenhamos cautela com conclusões precoces.

-- Posso ter sido a mais simples serviçal aqui, disse-me Helena, mas sem dúvida este lugar eu já conheço! Acredito que mais do que uma visita, um contato mais íntimo e freqüente com o Palácio de Scone deva ter sido em outra vida.

Posteriormente, por via mediúnica, bem como por outros recursos, tivemos referências sobre encarnações nossas na Grã-Bretanha, em épocas diversas cujos detalhes não estamos autorizados a escrever, em função até da ausência de provas aceitáveis. Para Helena, no entanto, a experiência marcou-a profundamente.

(Texto de: Ricardo Di Bernardi)

Fonte: Portal do Espírito

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Ku Klux Klan

Fundado em 1866 no Tennessee, Estados Unidos, após o final da Guerra Civil americana. Seu objetivo era impedir a integração social dos negros recém-libertados, como por exemplo, adquirir terras, ter direitos concedidos aos outros cidadãos, como votar.

Seus integrantes usavam capuz branco e roupão para esconder a identidade e aterrorizar suas vitimas. A sociedade secreta e racista, Ku-Klux-Klan, era presidida por um “Grande Sacerdote” e, abaixo deste, havia uma rígida hierarquia de cargos.

Em 1882, a Suprema Corte do país declarou inconstitucional a existência da Ku-Klux-Klan, mas ressurgiu em 1915 de forma legal na cidade de Atlanta, Estado da Geórgia.

Mas a partir deste momento sua doutrina não era unicamente o racismo aos negros, agora se estendia ao nacionalismo e xenofobia (aversão a estrangeiros). O símbolo da nova organização era uma cruz em chamas. A organização existe até os dias atuais.

Fonte: Lendas e Mistérios.

O espelho de Nancy

Nancy Fieldman, uma garota bonita e inteligente, de origem humilde, trabalhava em uma mansão na Inglaterra, juntamente com sua mãe por volta do ano 1870. Segundo a história, o senhor, dono da mansão onde ela e sua mãe trabalhavam era um homem com sérios problemas de personalidade, um "psicopata" sem escrúpulos, que tratava as duas muito mal, deixando para elas apenas as sobras de seus freqüentes banquetes e um quarto frio onde as duas se acomodavam durante a noite, naquela mansão com inúmeros quartos quentes que ficavam trancados para o uso apenas dos hospedes e convidados.

Devido ao tratamento desumano e também a uma anemia profunda, a mãe de Nancy veio a falecer, deixando para sua filha seus únicos bens materiais, uma pequena boneca de pano e um espelho emoldurado em mármore, deixado por seu pai com o seguinte dizer: "Serei o reflexo de tua alma onde quer que esteja" (entalhado na parte inferior do espelho). Nancy era uma garota tímida, porem muito sorridente, entretanto, com a morte de sua mãe, Nancy entrou em uma forte depressão e queria abandonar a mansão.

O dono da mansão, sabendo de suas intenções, trancou a garota em um porão, de onde ela não podia sair, e o que era pior, a garota passou a ser violentada todas as noites naquele lugar. Certo dia, cansada desse sofrimento e sentindo muitas dores, Nancy tentou reagir às agressões a que era submetida, dando um golpe com sua boneca de pano na cara do homem. O dono da mansão, muito revoltado com a garota, esbofeteou-a e a asfixiou com a própria boneca.

A garota derrubou o espelho ao se debater e ainda sem ar disse suas ultimas palavras: "Serei o reflexo de tua alma onde quer que esteja"... Semanas depois o homem foi encontrado com os cabelos completamente grisalhos, morto sem explicação com um pedaço do espelho entre as mãos.

Até hoje a morte desse homem tem sido um mistério, dizem que muitas pessoas morreram ou ficaram loucas após se apossarem daquele pedaço de espelho, muitos dizem ver o reflexo da pequena Nancy.
 
Fonte: Lukas Arts.

Wendigo

Wendigo (também Windigo, Windago, Windiga, Witiko, Wihtikow e outras variações) é uma criatura sobrenatural que faz parte da mitologia do povo indígena da América do Norte Ojíbuas. De acordo com a mitologia, o Wendigo é formado a partir de um humano qualquer, que passou muita fome durante um inverno rigoroso, e para se alimentar, comeu seus próprios companheiros. Após perpetuar atos canibais por muito tempo, acaba se tornando este monstro e ganha muitos atributos para caçar e se alimentar mais como, por exemplo, poder imitar a voz humana, escalar árvores, suportar cargas muito pesadas, e, além disso, tem uma inteligência sobre-humana.

São extremamente magros e maiores que um humano normal e alguns possuem uma pelagem branca, porém se acredita que geralmente são pelados. Suas características originais seriam os olhos brilhantes, dentes compridos e garras enormes. Andam sempre com muita fome e costumam hibernar guardando suas vítimas em um estoque particular dentro de alguma caverna para que possa devorá-los lentamente.


Caçadores extremamente habilidosos, sempre atacam viajantes perdidos na floresta onde habitam, alcançando-as rapidamente, e às vezes, costumam “brincar” com a presa antes de darem o bote. Ficam emitindo uma série de sons próximos, sem que as vítimas os possam ver e também costumam imitar a voz humana para confundir. Se a pessoa consegue sobreviver pode ainda estar em perigo, pois em algumas lendas o wendigo possui o espírito de alguma outra pessoa e sai a procura do sobrevivente para exterminá-lo.

A única maneira destruí-lo é derreter seu coração de gelo “queimá-lo”. As experimentações reais do assassinato de Wendigo ocorreram no Canadá em torno do começo do século XX.

Fontes: Wikipédia; Lendas e Mistérios.

Amazonas: relatos do séc. XVI

As Amazonas em gravura de Jean Cousin para o relato de André Thevet

Icamiabas ("mulheres sem marido") ou coniupuiaras ("grandes senhoras") são nomes indígenas dados a mulheres guerreiras análogas às amazonas da mitologia grega, que supostamente viveram no Brasil. A lenda sobre essas amazonas foi freqüentemente associado com o mito do Eldorado, em cujas vizinhanças elas supostamente viveriam.

Hernando de la Ribera declarou em Assunção do Paraguai, em 1543, que havia recebido notícias a respeito de mulheres que fazem guerra aos índios chiquitos (do atual departamento de Santa Cruz, na Bolívia) e que "em determinadas épocas do ano, se unem aos índios vizinhos".

Entre 1534 e 1554, o soldado alemão Ulrico Schmidl, a serviço dos espanhóis, ouviu também falar das Amazonas ao subir o rio Paraguai. Um chefe, ao saber que buscavam ouro e prata, lhe deu uma coroa, um bracelete, outros objetos de prata e uma placa de ouro, dizendo que as havia conquistado em uma guerra com as amazonas, que viviam a dois meses de distância por terra.

Elas viveriam em uma grande ilha cercada de água, mas o ouro e a prata se encontravam às margens do lago, onde vivem os homens que vêm vê-las três ou quatro vezes por ano. Como as amazonas gregas, queimavam o seio direito das meninas para que melhor manejassem o arco e as armas. Elas formavam uma grande nação e tinham um rei que deveria chamar-se Iñis, como o lugar que lhes foi indicado. Schmidl tentou seguir a indicação, mas as dificuldades se tornaram cada vez maiores e acabou por voltar.

Em 1555, o franciscano francês André Thevet, cosmógrafo do rei, permaneceu, doente, dez semanas no Brasil - na colônia da França Antártica, no atual Rio de Janeiro, fundada por Nicolas Durand de Villegaignon -, onde compilou textos escritos por outros membros da expedição para publicá-los com sua assinatura na França. Um deles era consagrado às amazonas que, segundo ele, teriam se dispersado pelo mundo depois da guerra de Tróia.

Na América, eram enconradas em ilhas, onde vivem em pequenas habitações ou cavernas. Importunadas por seus inimigos, defendem-se com ameaças, gritos e gestos horríveis, protegidas por carapaças de tartarugas gigantes. Para matar seus prisioneiros, penduram-no por uma das pernas no galho de uma árvore. Ao cabo de algum tempo retornam e, se o infeliz continua vivo, atiram "dez mil flechas" e acendem uma fogueira debaixo da árvore para reduzi-lo a cinzas.

Agustín de Zárate, em sua Historia del Perú, pubicada em Antuérpia na segunda metade do século XVI, escreve que diante do Chile reina u gande senhor chamado Leuchengorma e que seus vassalos contaram aos espanhóis que "cinqüenta léguas mais à frente, há, entre dois rios, uma grande província povoada inteiramente por mulheres que não aceitam homens junto delas senão durante o tempo necessário à concepção e que, se dão à luz meninos os mandam para os pais, mas se são meninas, elas as ciam."

E acrescenta que "sua rainha se chama Gaboymilla, o que significa em sua língua Céu de Ouro, porque dizem que nesta terra cresce grande quantidade de ouro".

Fonte: Fantastipédia.

As Amazonas de Carvajal

As Amazonas segundo Ulrico Schmidl

Uma expedição comandada por Gonzalo Pizarro, irmão do conquistador do Peru Francisco Pizarro, saiu de Quito no Natal de 1541, com o objetivo de atravessar os Andes em busca do "País da Canela", uma terra situada do outro lado da muralha dos Andes, na selva oriental, onde se supunha que as árvores de onde se podia extrair a valiosa especiaria cresciam em quantidade. Não as encontraram, em quantidade comercialmente útil e decidiram descer o rio Napo (no atual Equador) em busca de outras possíveis riquezas. 

Depois de descerem 300 quilômetros, exausto e faminto, Gonzalo Pizarro mandou, um de seus comandados, Francisco de Orellana, buscar provisões à frente de um grupo. Porém, Orellana não voltou e depois de seis meses, Pizarro, julgando que fora traído ou que Orellana fora morto, regressou a Quito com os demais sobreviventes.

Frei Gaspar de Carvajal, que acompanhou Francisco de Orellana nessa aventura, relata-nos o sucedido. A expedição desceu o rio Napo, mas sua corrente era forte demais e em apenas um dia de viagem, teriam percorrido 120 quilômetros. Sem poder retornar, Orellana foi forçado a seguir em frente. Algumas semanas depois, no dia 11 de fevereiro de 1542, atravessou a foz do Rio Napo e alcançou um rio muito maior. Ali, os índios irimaraés lhe perguntaram se iam "visitar o território das ‘grandes senhoras’ (coniupuiara, em nheengatu), pois, se o fizessem, se acautelassem porque elas eram muito numerosas e que os matariam".

Em outra aldeia, teriam encontrado uma praça com uma grande escultura em relevo, onde figurava, sob dois leões, uma cidade murada com altíssimas torres. Tendo Orellana perguntado sobre o seu significado, teria sido informado de que os habitantes eram súditos e tributários das amazonas, a quem forneciam penas de pássaros.

Frei Carvajal descreveu inúmeros outros encontros e acidentes, mas o mais notável se deu em 24 de junho de 1542, dia de São João, quando a expedição deteve-se perto da foz do rio Nhamundá (perto da atual divisa entre Amazonas e Pará) para festejar o santo. De novo tiveram de enfrentar uma tribo hostil. Orellana tentou o entendimento, mas os aborígenes afirmaram "que nos apanhariam a todos para nos levarem às mulheres guerreiras". Os espanhóis responderam com o fogo das armas, a luta intensificou-se e o próprio Carvajal foi ferido. Surgem então as ditas mulheres com arcos e flechas em socorro da tribo.

"Elas lutavam com tal ardor que os índios não ousavam recuar e se algum fugia à nossa frente eram elas quem os matavam à paulada (...) São muito alvas e altas, com cabelo muito comprido, entrelaçado e enrolado na cabeça. São muito membrudas e andam nuas a pêlo, tapadas em suas vergonhas; com os seus arcos e flechas na mão, fazem tanta guerra como dez índios (...) Em verdade houve uma dessas mulheres que meteu um palmo de flecha por um dos bergantins, e as outras, um pouco menos, de modo que os nossos bergantins pareciam porcos-espinhos."

Segundo Carvajal, um índio aprisionado no combate disse que aquelas mulheres viviam a sete jornadas da margem e que, como o seu senhor Couynco estava a elas subordinado, vieram ajudá-lo. O indígena conhecia suas terras, aonde já fora levando-lhes o tributo em nome de Couynco. Disse que viviam em casas de pedra com portas, agrupadas em 70 aldeias cercadas, pelas quais ninguém passava sem pagar tributo.

Coabitavam com índios que capturavam em guerras que empreendiam apenas para esse propósito. Ao engravidar, mandavam embora esses homens sem lhes fazer mal. Os filhos homens eram sacrificados ou enviados aos pais e as meninas, treinadas para a guerra. Sua rainha se chamava Coñorí e em suas terras havia grandes riquezas de ouro e prata e cinco templos dedicados ao Sol, chamados caranaí, com assoalhos e tetos pintados, além de inúmeros ídolos femininos de ouro e prata. 

Andavam com roupas finíssimas, fabricadas com a lã das "ovelhas peruanas" (alpacas): "seu trajar é formado por umas mantas apertadas dos peitos para baixo, o busto descoberto, e um como manto, atado adiante por uns cordões. Trazem o cabelo solto até o chão e postas na cabeça coroas de ouro, da largura de dois dedos". Sua terra é povoada por camelos (lhamas) que servem de animais de carga e havia dois lagos de água salgada. Ao anoitecer, todos os homens deviam retirar-se de suas cidades.

Apesar do encantamento do dominicano com as guerreiras nuas, o contato lhe custou caro. Segundo ele próprio, “Nosso Senhor achou adequado que uma flecha atingisse um dos meus olhos, de modo que o atravessasse de um lado a outro” e perdeu o olho esquerdo. Em 26 de agosto de 1542, Orellana e seus soldados finalmente viram o mar e rumaram para o norte ao longo da costa. Alguns dias depois, ancoraram em Cubagua, pequena ilha na Venezuela e puderam contar ao mundo sua história, devido à qual o grande rio ficou conhecido como "rio das amazonas", hoje rio Amazonas.

Em 1576, Pêro de Magalhães Gândavo chamava "rio das amazonas" ao grande rio, comprovando a divulgação do mito no Brasil. E acrescentou: "Algumas índias há também entre eles que determinam ser castas as quais não conhecem homem algum de nenhuma qualidade, nem o consentirão, ainda que por isso as matem. Estas deixam todo o exército de mulheres e imitam os homens e seguem seus ofícios como se não fossem fêmeas, trazem os cabelos cortados da mesma maneira que os machos fazem, e vão à guerra com os seus arcos e flechas e à caça perseverando sempre na companhia de homens e cada uma tem mulher que a serve com quem diz que é casada, e assim se comunicam e conversam como marido e mulher." 

Fonte: Fantastipédia.

quarta-feira, 4 de abril de 2012

O Diabo no campanário

Que horas são? (Velho ditado)

Toda a gente sabe, de modo geral, que o mais belo lugar do mundo é… ou, aí! era o burgo holandês de Vondervotteimittiss,. Contudo, como se encontre a alguma distância de qualquer das principais estradas, estando de certo modo fora de mão, talvez poucos de meus leitores o tenham alguma vez visitado.

Em benefício daqueles que não o hajam visitado, portanto, acho acertado dar alguns informes a seu respeito. E isto é, de fato, tanto mais necessário quanto, na esperança de conquistar a simpatia pública para seus habitantes, me proponho aqui relatar a historia dos acontecimentos calamitosos, que recentemente ocorreram, dentro de seus limites.

Ninguém que me conheça duvidará de que o dever assim imposto a mim mesmo será cumprido, com o melhor da minha habilidade, com toda aquela severa imparcialidade, todo aquele exame cauteloso dos fatos e diligente citação de autoridades, que sempre distinguiram aquele que aspira ao título de historiador.

Graças ao auxílio reunido de medalhas, manuscritos e inscrições, estou capacitado a afirmar positivamente, que o burgo de Vondervotteimittiss sempre existiu, desde suas origens, precisamente nas mesmas condições em que se conserva em nossos dias. A respeito da data de sua origem, porém, lamento só poder falar com aquela espécie de precisão indefinida a que são forçados, às vezes, os matemáticos, a sujeitar-se, em certas fórmulas algébricas. A data, posso assim exprimir-me, em relação à sua remota antiguidade, não pode ser menor que qualquer quantidade determinável.

No que se refere à etimologia da palavra Vondervotteimittiss, confesso-me com pesar igualmente em falta. Em meio duma multidão de opiniões sobre este delicado ponto, algumas argutas, algumas eruditas, outras suficientemente o contrário, nada posso escolher que deva ser considerado satisfatório.

Talvez a opinião de Grogswigg, quase coincidente com a de Kroutaplentey, deva ser prudentemente preferida. É a seguinte: "Vondervotteimittiss - Vonder, longe Donder - Votteimittiss quasi und Bleitziz - Bleitziz obsol: pro Blitzen." Esta derivação, para falar a verdade, é ainda sustentada por alguns restos do fluido elétrico, evidentes no alto do campanário da Casa do Conselho Municipal.

Não pretendo, contudo, comprometer-me sustentar uma tese de tal importância, devo endereçar o leitor, desejoso de informação, ao livro ORATIUNCULAE DE RERUS PROETER-VETERIS de Dundergutz. Veja, também, Blunderbuzzard, DE DERIVATIONIBUS, pp. 27 a 5010, in-fólio, edição gótica, caracteres vermelhos e negros, com chamadas e em monograma; consulte também, as notas marginais no autógrafo de Stuffundpuff, com os sub-comentários de Gruntundguzzell.

Não obstante a obscuridade que envolve dessa forma a data da fundação de Vondervotteimittiss e a etimologia de seu nome, não pode haver dúvida, como disse antes, que ele sempre existiu tal como o vemos na época atual. O mais velho homem do burgo não pode recordar-se da mais leve diferença, na sua aparência de qualquer porção dele, e, de fato, a simples sugestão de tal possibilidade é considerada um insulto.

A aldeia está situada num vale perfeitamente circular, com cerca dum quarto de milha de circunferência e inteiramente cercada de leves colinas, cujos cumes ninguém de lá se aventurou ainda a passar, e seus habitantes dão como boa razão disto não acreditarem que haja absolutamente alguma coisa do outro lado.

Em torno das ourelas do vale (que é completamente plano e todo pavimentado de tijolos lisos), estende-se uma fila contínua de sessenta casinhas. Estas, dando os fundos para as colinas olham, sem dúvida, para o centro da planura, que fica justamente a sessenta jardas, da porta da frente de cada habitação.

Cada casa tem um pequeno jardim à frente, com um caminho circular, um relógio de sol e vinte e quatro couves. As próprias construções são tão precisamente idênticas, que não se pode distinguir de maneira alguma, uma da outra. Devido à sua extrema antiguidade, o estilo arquitetónico é um tanto esquisito, mas nem por isso deixa de ser notavelmente pitoresco.

As casas são feitas de pequenos tijolos bem cozidos, vermelhos, com cantos pretos, de modo que as paredes parecem um tabuleiro de xadrez, de grandes proporções. Os torreões estão voltados para a frente e há cornijas tão grandes, como todo o resto da casa, sobre os beirais e as portas principais. As janelas são estreitas e profundas, com pequeninas vidraças e grande quantidade de caixilhos. Nos telhados, numerosas são as telhas com longas ponta arrebitadas. O madeiramento, por toda a parte, apresenta uma cor escura, muito lavrado, mas com pouca variedade de desenhos, pois desde tempo imemorial, os entalhadores de Vondervotteimittiss nunca foram capazes de entalhar mais do que dois objetos: um relógio de mesa e uma couve. Mas estes faziam-nos demasiadamente bem e os entremeava, com singular habilidade, por toda a parte onde encontrassem lugar para o cisel.

As habitações tanto se parecem, interna como externamente, e o mobiliário obedece todo a um só modelo. O chão é de tijolos quadrados, as cadeiras e mesas de madeira preta, com pernas delgadas e recurvas e pés de cachorrinho. As chaminés são largas e altas e não tem somente relógios e couves insculpidos na frontaria, mas um verdadeiro relógio que emite um prodigioso tique-taque, bem no meio e no alto, com um jarro de flores em cada extremidade, contendo uma couve, como se fosse um batedor. Entre cada couve e o relógio há ainda um homenzinho de porcelana, com uma grande barriga, onde se abre um buraco redondo, através do qual vê-se o mostrador dum relógio.

São as lareiras largas e profundas, com cães-de-chaminé grosseiros e retorcidos. Constante fogo se alteia, com uma imensa marmita sobre ele, cheia de chucrute e carne de porco, sempre vigiada pela boa dona da casa. É uma velhinha gorducha, de olhos azes e rosto vermelho, usando uma enorme touca, semelhante a um pão de açúcar, ornado de fitas vermelhas e amarelas. Seu vestido é de droguete, cor de laranja, muito amplo atras e muito curto na cintura e, na verdade, sob outros aspectos, curtíssimo, não passando do meio das pernas. Estas e os tornozelos são grossos, mas cobertos por um lindo par de meias verdes. Seus sapatos, de couro cor de rosa, são amarrados por laço de fitas amarelas, pregueados em forma de couve. Na mão esquerda usa ela um pesado reloginho holandês e na direita empunha um colherão, para a chucrute e a carne de porco. A seu lado, aninha-se um gordo gato malhado, tendo amarrado à cauda, pelos "meninos", por pilhéria um dourado relógio de repetição, de brinquedo.

Quanto aos meninos da casa, estão todos três cuidando do porco no jardim. Têm cada um dois pés de altura. Usam chapéus de três pontas, coletes encarnados, que lhes caem até as coxas, calções de couro de gamo, meias de lã vermelha, sapatões com grandes fivelas de prata e longos gabões, com grandes botões de madrepérola.

Cada um tem também um cachimbo na boca e um pequeno relógio barrigudo, na mão direita. Solta uma baforada e dá uma olhadela para o relógio. Outra baforada e outra olhadela. O porco - que é corpulento e preguiçoso, - está ocupado ora em fossar as folhas esparsas, caídas dos pés de couve ora a dar um pontapé para trás, no dourado relógio de repetição, que os garotos amarraram-lhe à cauda, a fim de torná-lo tão belo, quanto o gato.

Bem defronte da porta, numa cadeira de braços de alto espaldar e fundo de couro, de pernas torneadas e pés de cachorrinho como as mesas, esta sentado o próprio dono da casa. É um velhinho, excessivamente gorducho, com grandes olhos redondos e uma imensa papada. Seu traje se assemelha ao dos meninos; portanto, não preciso dizer nada mais a seu respeito.

Toda a diferença esta em que seu cachimbo é um tanto maior do que o deles e ele pode dar uma baforada maior. Como eles, tem um relógio, mas leva-o no bolso. Para falar a verdade, tem ele algo de mais importante a atender e que isso seja passarei a explicar. Ele se senta, com a perna direita sobre o joelho esquerdo, mostra uma fisionomia grave e conserva sempre um dos olhos, pelo menos, resolutamente fixo sobre certo objeto notável, no centro do largo.

Este objeto está situado no campanário da casa do Conselho Municipal. Os conselheiros municipais são todos homens pequeninos, redondos, gorduchos e inteligentes, com grandes olhos de boi e gordas papadas e tem os gabões muito mais compridos e as fivelas dos sapatos muito maiores, do que os habitantes comuns de Vondervotteimittiss.

Desde que moro no burgo, tiveram eles varias reuniões especiais e adotaram estas três importantes resoluções:

"Não está direito alterar o bom e velho curso das coisas."

"Nada existe de tolerável fora de Vondervotteimittiss".

"Juramos fidelidade aos nossos relógios e couves".

Acima da sala de sessões do Conselho acha-se a torre e na torre o campanário, onde existe e tem existido, desde tempos imemoriais, o orgulho e maravilha da aldeia: o grande relógio do burgo Vondervotteimittiss. E é para este objeto que se volvem os olhos dos velhos, que se assentam nas cadeiras de braços de fundo de couro.

O grande relógio tem sete faces, uma para cada um dos sete lados da torre, de modo que pode ser prontamente visto de todos os quarteirões. Seus mostradores são largos e brancos e seus ponteiros grossos e negros. Há um sineiro, cuja única obrigação é cuidar do campanário, obrigação esta que é mais perfeita das sinecuras, pois o relógio de Vondervotteimittiss nunca, que se saiba, precisou de conserto.

Até recentemente, a mera posição de tal coisa era considerada herética. Desde a mais remota antiguidade, a que se referem os arquivos, as horas tem sido regularmente batidas pelo grande sino. E, na verdade, a mesma coisa acontecia com todos os outros relógios de parede e de bolso do burgo. Jamais houve um lugar onde se marcasse tão bem a hora certa. Quando o grande badalo achava conveniente dizer "Doze horas", todos os seus obedientes servidores abriam suas gargantas, simultaneamente, e respondiam, como um verdadeiro eco. Em suma, os bons burgueses eram loucos pela sua chucrute, mas orgulhavam-se também dos seus relógios.

Toda as pessoas que exercem sinecuras são tratadas com mais ou menos respeito e com o sineiro de Vondervotteimittiss tivesse a mais perfeita das sinecura era o mais perfeitamente respeitado de todos os homens do mundo. É o principal dignitário do burgo e até os porcos olham para ele, com sentimento de reverência. A aba de seu gabão é bem mais comprida; seu cachimbo, as fivelas de seus sapatos, seus olhos e seu estômago, bem maiores do que os de qualquer outro velho da aldeia. E quanto à sua papada, e não somente dupla, mas tripla.

Acabo de descrever a feliz situação de Vondervotteimittiss. Que pena que tão lindo quadro tivesse algum dia de apresentar um reverso!

Um velho ditado corria, há muito, entre os mais sábios habitantes: que "nada de bom pode vir de além das colinas; e realmente parece que as palavras contêm algo do espírito profético.

Faltavam cinco para meio-dia, ante de ontem, quando apareceu um objeto, bastante esquisito, no cume da crista de leste. Tal fato, por certo, atraiu a atenção geral, e cada velhinho, que estava sentado numa cadeira de braços, de fundo de couro, voltou um dos olhos, com um olhar de consternação, para o fenômeno, conservando ainda o outro olho sobre o relógio da torre. Faltavam três minutos apenas para o meio-dia, quando se verificou que o estranho objeto em questão era um rapazinho, bem pequeno e de aparência estrangeira. Desceu as colina a toda carreira, de modo que todos, em breve, puderam vê-lo bem.

Era, na realidade, a criaturinha mais esquisita, que jamais fora vista em Vondervotteimittiss. Seu rosto era de um negro cor de rapé e tinha um longo nariz adunco, olhos miúdos, uma boca larga e admirável dentadura, que ele parecia ter gosto em exibir, escancarando a boca de orelha a orelha. Além de bigodes e suíças, nada mais havia a ver no resto de seu rosto. Estava com a cabeça descoberta e seu cabelo fora cuidadosamente arranjado com papelotes.

Seu traje era uma casaca preta, bem apertada, terminando em cauda de andorinha (de um de cujos bolsos pendia um enorme lenço branco), calções de casimira preta, meias pretas escarpins de entrada baixa, tendo, como laços, enormes molhos de fita de cetim preto. Sob um braço, levava um desmedido claque e debaixo do outro uma rabeca, quase cinco vezes tão grande quanto ele próprio. Na mão esquerda trazia uma tabaqueira de ouro, da qual, enquanto cabriolava, colinas abaixo, dando os passos mais fantásticos, ia tomando incessantes pitadas, com um ar da maior satisfação possível. Valha-me Deus! Que espetáculo para os honestos burgueses de Vondervotteimittiss.

Para falar claramente, o sujeito tinha, a despeito de seu sorriso, uma espécie de cara audaciosa e sinistra e, enquanto galopava, diretamente, rumo à aldeia, o aspecto acalcanhado de seus escarpins excitou não poucas suspeitas. E mais de um burguês, que o contemplou naquele dia, teria dado qualquer coisa por uma olhadela, sob o lenço de cambraia branca, que pendia tão impertinentemente do bolso de sua casaca de rabo de andorinha. Mas o que causou principalmente justa indignação foi que o velhaco peralvilho, enquanto dançava um fandango aqui e dava uma pirueta ali, não parecia ter a mais remota ideia disso que se chamava marcar compasso na dança.

O bom povo do burgo, contudo, mal tivera ocasião de abrir completamente os olhos, quando, precisamente, ao faltar meio minuto para o meio-dia, o patife saltou, como eu disse, bem no meio deles, deu um casses aqui, um balances ali; e, em seguida, depois de uma pirueta em pas de zéphyr, subiu em voo de pombo, para o campanário, da casa do Conselho Municipal, onde o aterrorizado sineiro se achava sentado, fumando, num estado de dignidade e pavor.

Mas o sujeitinho agarrou-o imediatamente pelo nariz, deu-lhe um piparote e um puxão, bateu-lhe com o grande claque na cabeça, enfiando-lho até os olhos e a boca e depois, levantando o rabecão, bateu com ele no homem, sineiro tão gordo e a rabeca tão oca, a gente teria jurado que cabia um regimento de tocadores de bombos, batendo todos os tam-tam do diabo, no campanário da torre de Vondervotteimittiss.

Não se sabe a que ato desesperado de vingança podia esse ataque revoltante ter levado os habitantes, não fosse o importante fato de que faltava agora apenas meio segundo, para o meio-dia. O sino estava quase a bater e era questão de absoluta e premente necessidade que todos olhassem bem para o seu relógio. Era evidente, porém, que justamente, nesse momento, o sujeito, lá na torre, estava fazendo algo, que não devia com o relógio. Mas como este estivesse agora a bater, ninguém tinha tempo de prestar atenção às manobras do tal, pois tinham todos de contar as pancadas do sino, à proporção que soavam.

- "Uma!" - disse o relógio.

- "Una" - respondeu em eco cada um dos velhotes, em cada uma das cadeiras de braço de fundo de um couro, em Vondervotteimittiss. "Una"- disse também o relógio de bolso deles.

"Una!"- disse o relógio de sua "frau". E "Una!" disseram os relógios dos meninos e os relogiozinhos de repetição, nas caudas do gato e do porco.

- "Duas!"- continuou o grande sino. E

- "Tuas!"- repetiram todos os repetidores.

- "Três! Quatro! Cinco! Seis! Sete! Oito! Nove! Dez!"- disse o sino.

- Drês! Guadro! Zingo! Zeis!Zete! Oito! Nofe! Tez!"- responderam os outros.

- "Onze!"- disse o sino grande.

- "Once!"- concordaram os pequenos.

- "Doze!"- disse o sino.

- "Toce!"- replicaram, perfeitamente satisfeito, ritmando as vozes.

- E zong toce horras! - disseram todos os velhinhos, tornando a guardar seus relógios. Mas o sino grande não dera a coisa por terminada.

- TREZE! - disse ele.

"Des Teufel! - disseram ofegantes os velhotes, empalidecendo, deixando cair os cachimbos e as pernas direitas de cima dos joelhos esquerdos.

- "Der Teufel! - gemeram eles.

"Drece! Drece! Mein Gott! Zong drece horras! Por que tentar descrever a terrível cena que se seguiu? Toda Vondervotteimittiss precipitou-se imediatamente em lamentável tumulto. - Gue fai agondezer ao meu parriga? - berravam todos os rapazes.

- Estar gom uma horra te vome! - Gue fai agondezer ao meu coufe? - guinchavam todas as mulheres. - Estar firando mingau teste uma horra! - "Gue fai agontecer ao meu gajimba? - praguejavam todos os velhotes. - Raias e Drovongs! Teve estarabacata teste una horra!" E os encheram de novo com grande raiva e, encostando-se e tão violentas, que todo o vale imediatamente ficou cheio de impenetrável fumaça.

Entrementes, todas as couves ficaram bastante vermelhas e pareciam que o próprio Diabo velho tomara posse de tudo quanto tinha forma de relógio. Os relógios esculpidos, sobre os móveis, começaram a dançar, como se estivessem enfeitiçados, enquanto os que se achavam sobre as chaminés mal podiam conter-se de furor e tão continuamente batiam as treze horas, com tais pulos e balanços de seus pêndulos, que era coisa realmente horrível de ver-se.

Mas o pior de tudo é que nem os gatos, nem os porcos, podiam suportar por mais tempo a conduta dos remoinhos de repetição, amarrados às suas caudas, e vingavam-se disso, abalando todos precipitadamente para o largo, arranhando, empurrando, grunhindo e guinchando, miando e berrando, voando de encontro às caras, correndo para baixo das saias das mulheres e provocando a mais completa, a mais abominável, a mais barulhenta confusão que é possível uma pessoa de juízo conceber. E para tornar as coisas ainda mais angustiosas, o velhaquinho mandrião, lá na torre, estava evidentemente se excedendo.

De vez em quando, podia-se vislumbrar o patife, através da fumaça. Achava-se sentado ainda no campanário, em cima do sineiro, que jazia completamente espichado de costas. Nos dentes, o infame conservava a corda do sino, que agitava em torno com a cabeça, fazendo tal barulheira, que meus ouvidos ainda retinem, só de pensar nisso. Em seus joelhos repousava a enorme rabeca, cujas cordas ele tangia, fora de qualquer compasso ou toada, com ambas as mãos, procurando exibir-se, o palhaço, a tocar, com ambas as mãos, procurando exibir-se, o palhaço a tocar as canções "Judy O'Flannagan"e "Paddy O'Rafferty".

Estando assim as coisas neste miserável estado, abandonei o lugar, cheio de desgosto, e agora faço um apelo a todos os amantes da hora certa e da boa chucrute. Vamos todos, incorporados, ao burgo, e restauremos a antiga ordem de coisas, em Vondervotteimittiss, jogando aquele sujeitinho de cima da torre.