quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Lemúria e lemurianos

"Lemúria em toda a sua extensão", segundo W. Scott-Elliot.


Lemúria, originalmente uma hipótese científica para explicar semelhanças geológicas entre a Índia e Madagascar, entrou para o repertório do ocultismo em 1877, com o livro Ísis sem Véu, de Helena Blavatsky. Na cosmologia ali esboçada, a Terra teria sido ocupada, até agora, por cinco "raças-raízes", às quais se sucederiam, no futuro, mais duas. Sua suposta fonte seria uma obra secreta chamada Estâncias de Dzyan, a cujos manuscritos, escritos em uma língua chamada senzar, só ela teve acesso.

Lemúria, nesta concepção também chamada Shambali, teria sido ocupada pela terceira "raça-raiz", originalmente hermafrodita e ovípara, de quatro braços, mentalmente subdesenvolvida, que conviveu com os dinossauros. Segundo Blavatsky, quando surgiram os mamíferos, alguns lemurianos tiveram relações sexuais com esses animais, dando origem aos macacos.

Essa concepção de Lemúria foi desenvolvida por outros teósofos, principalmente W. Scott-Elliot, em Atlântida e Lemúria: continentes desaparecidos e Annie Besant e C. W. Leadbeater em O Homem: donde e como veio e para onde vai?, ainda que sem o mesmo grau de detalhamento oferecido nas descrições de Atlântida e Shambhala.

Os lemurianos conviveram com dinossauros, plesiossauros, pterodáctilos e ictiossauros, entre florestas de coníferas, samambaias gigantes e palmeiras (sic), e a popularidade da obra teosófica nos EUA talvez explique, em parte, a popularidade da idéia errônea segundo a qual humanos pré-históricos conviveram com dinossauros, expressa não só em histórias cômicas como a de Brucutu e dos Flintstones, como também em filmes de aventura e fantasia, como O Despertar do Mundo (One Million B.C., de 1940), de Hal Roach Jr. e sua refilmagem de 1966, Mil Séculos antes de Cristo, (One Million Years B.C.), por Don Chaffey.

Embora os teósofos rejeitem a versão bíblica do Gênesis e seu pressuposto de que o mundo foi criado por volta de 4.004 a.C., sua escala de tempo - embora fosse compatível com hipóteses científicas do século XIX - está totalmente em desacordo com as da geologia atual. Segundo Helena Blavatsky, os lemurianos teriam surgido há 18 milhões de anos e esse período corresponderia ao Triássico - que, na realidade, está compreendido entre 251 milhões e 199,6 milhões de anos. Segundo Annie Besant, os lemurianos assexuados teriam surgido há 36 milhões de anos, no Triássico para depois tornarem-se hermafroditas e a separação dos sexos teria se dado no Jurássico, há 18 milhões de anos. Na realidade, o Jurássico se deu entre 199,6 milhões e 145 milhões de anos.

Cada uma das "raças-raízes", inclusive a lemuriana, teria dado origem a sete "sub-raças", assim como as "raças" posteriores, a atlante e a "ariana". Entretanto, as "sub-raças" lemurianas não recebem nomes específicos e suas descrições por diferentes autores freqüentemente se contradizem.

Segundo Helena Blavatsky, os lemurianos pritivos eram os ciclopes da mitologia grega. Eram hermafroditas com dupla face, três olhos e quatro braços. Este último detalhe não foi retomado ou explicado por Scott-Elliot, Besant ou Leadbeater, que aparentemente interpretaram os dois braços extras como membros posteriores pouco diferenciados dos anteriores e dotados de "mãos", como nos macacos - que no século XIX eram cientificamente classificados como "quadrúmanos", justamente por essa característica. A dupla face indica um olho atrás da cabeça, que formava uma "face" de ciclope. Entretanto, Besant, mais tarde, disse que os primeiros lemurianos tinham um só olho no meio da face, sendo os outros dois ainda não funcionais.

Fonte: Fantastipédia.

De Lemúria a Gondwana



Tentemos dirigir nossos olhos para o passado bem remoto da Terra: após relativa solidificação, veremos seu vulto mudar continuamente, atormentado por enormes cataclismos e convulsões horrendas. Continentes surgem do oceano inicial, transformam-se e, como plasmados por mãos gigantescas, de novo afundam, enquanto outros emergem, represam as águas entre seus monstruosos relevos, levando-as a formar enormes lagos que um sopro de fogo, do interior do globo, basta para fazer desaparecer em possantes colunas de vapor.

Instala-se afinal uma calma relativa: cerca de 1 bilhão de anos atrás, segundo muitos eminentes geólogos, dá-se a estabilização da superfície terrestre em uma única, grande massa continental: a Megagea (do grego: "grande terra"). Após 300 milhões de anos, o quadro muda mais uma vez: novas convulsões violentas provocam o aparecimento de abismos em vastíssimas regiões e delineiam continentes desconhecidos, destinados a desaparecer ou a mudar de as­pecto inúmeras vezes.

Umas dessas imensas formações teria ocupado grande parte do Oceano Pacífico, indo desde Madagáscar até o Ceilão, da Polinésia à Páscoa e à Antártida. Os estudiosos que aceitam essa hipótese chamam esse continente de Lemúria, afirmando que ele já existia no período Permiano (cerca de 250 milhões de anos) para desaparecer, após várias transformações, perto do início da era Terciária — devido a poderosos revolvimentos ocorridos há 60 milhões de anos. Os relevos de Lemúria poderiam ser identificados — além dos pontos citados para delinear, de maneira grosseira, seus limites — nas Ilhas Seychelles, Maldivas, Laquedivas, Quiagos, o banco de Sahia de Maiha e talvez também nas Ilhas Keeling. Entre os dados oferecidos para confirmação dessa hipótese, não podemos ignorar os relativos à afinidade da fauna e flora das regiões agora separadas pelas águas, mas que um dia constituíram parte integrante de vastíssimo continente.

Os estudiosos, — incluindo os que concordam em atribuir ao aparecimento da humanidade sobre a Terra uma data muito anterior à admitida até pouco tempo atrás pela ciência oficial — negam que a suposta Lemúria tenha hospedado formas de vida semelhantes à nossa. Entretanto, lendas polinésicas falam de "duas grandes ilhas" (continentes?) antiqüíssimas, habitadas uma por homens amarelos, outra por homens negros, que viviam em constante luta. Os deuses teriam tentado pacificá-los, mas afinal convencidos de que se tratava de inimigos inconciliáveis, teriam resolvido precipitar nos mares aquelas ilhas.

Mas há quem afirme conhecer mais: os cultores de ciências esotéricas, que acreditam poder reconstruir, com seus "estudos", a história não escrita da Terra. Podemos empreender com eles — como simples curiosidade — uma volta por aquilo que teria sido a Lemúria.

Acompanhando-os, chegamos a um continente rico em lagos e vulcões, sufocado sob um céu eternamente cinzento, nublado pela ininterrupta atividade de milhares de crateras. Aqui se movem criaturas de pesadelo que bem poderiam ter algum parentesco com os gigantes de Saurat e Bellamy: grotescas caricaturas de homens, seres com 3,5 m a 4,5 m de altura, exibindo no lugar da pele uma couraça moreno-amarelada — que lembra simultaneamente a do rinoceronte e a rugosa pele do crocodilo — braços e pernas muito longos, dobrados em amplo ângulo agudo, pois os cotovelos e os joelhos dispõem-se de tal maneira que os impedem de esticar completamente os membros. Mãos e pés são desproporcionadamente grandes, e o calcanhar mostra notável saliência traseira. Mas a parte mais assustadora desses lemurianos é sem dúvida a cabeça: o rosto é achatado, a mandíbula longa, os olhos pequenos e bem distanciados entre si, de maneira a permitir que seus donos enxerguem quer para a frente quer para os lados; mas não possuem somente um par de olhos: um terceiro, bem no meio da nuca, lhes permite dominar a paisagem que têm às costas. De cabelos, não há vestígio: se quiserem ter idéia do que é sua testa, peguem um tomate cheio de saliências, cortem-no pela metade em sentido horizontal e... divirtam-se!

Os senhores que parecem tão bem informados sobre a Lemúria acrescentam que, com o passar de milênios, essa raça teria melhorado de aspecto (e disso necessitava mesmo!) até perder a aparência monstruosa e adquirir o que seria o resultado de uma espécie de cruzamento entre macacos e bosquímanos: estes últimos, aliás, seriam realmente seus descendentes, junto com os aborígines australianos, os indígenas da Terra do Fogo e alguns outros grupos africanos ou indianos.

As primeiras choupanas desses seres teriam sido formadas com troncos amontoados de qualquer maneira; mais tarde, contudo, teriam construído pequenas cidades com blocos de pedra e lava, colocados de modo a constituir um cubo sem janelas, com uma porta e uma abertura superior para permitir a iluminação interna. Um desses centros se acharia a cerca de 30 milhas a oeste de Páscoa, no fundo do Pacífico, enquanto algumas ruínas poderiam ser encontradas nas selvas de Madagáscar.

É natural que nunca poderemos chegar à verdade sobre Lemúria, a exemplo do que ocorre com outro continente antiqüíssimo — o de Gondwana — também envolvido no mistério de alguns documentos, alguns dados científicos e muitas lendas. E quanto aos seus habitantes, a que os gregos se referem quando falam de "pré-selenitas"? Também poderia ser observado que os textos tibetanos assinalam-no florescente — quando nossa lua ainda não brilhava — povoado por seres muito sábios e evoluídos que construíram grandes "casas de cristal" (a ficção científica pensa em arranha-céus tipo "palácio de vidro"!).

Com pesquisas pormenorizadas sobre Gondwana, dedicaram-se a esse problema, de maneira especial, os geólogos Blandford e Süss, chegando a afirmar que esse continente teria tido geograficamente muitos pontos em comum com Lemúria: entre outros, a Ilha da Páscoa, África do Sul, Madagáscar e Ilha Central.

Teria Gondwana nascido do fracionamento da própria Lemúria, ou teria surgido como conseqüência das catástrofes que levaram esta última à destruição? Aqui temos também que nos satisfazer com fantasias sobre as migalhas que a ciência penosamente conseguiu juntar.
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Fonte: KOLOSIMO, Peter - Antes dos Tempos Conhecidos -  Edições Melhoramentos - 4.a Edição  - 1968.