sábado, 26 de outubro de 2013

Morte às Bruxas - Parte 1


Intermediárias do Demônio — Uma história incrível passada há 300 anos nos tribunais de Massachusetts Dezoito mulheres enforcadas e duzentas pessoas levadas ao cárcere O senado daquele estado norte-americano proclamou, não há muito, a inocência dos mortos e dos martirizados.

Esta história se passou há muito tempo, mais de três séculos, e, agora, nos parece incrível. Nada, porém, foi mais verdade! Tudo ocorreu em Massachusetts. Naquela época se acreditava em bruxas, que era gente com boa amizade com o Diabo. E os juízes as condenavam à morte. Daí se concluir que não se tratava de mera crendice popular. A bruxa era considerada intermediária entre o demônio e a tempestade, a peste e os malefícios.

Certa mulher de nome Brígida Bishop morria, por isso, na forca, em julho de 1692, abrindo o cortejo de outras pessoas condenadas ao mesmo suplício e por culpa idêntica.

Culpada? Sim, culpada! Culpada de fazer bruxedos, de ter feito se matar um homem envenenado e, ainda, porque ofendera, com a sua indumentária de cores atrevidas, o recato das puritanas. Isso rezara a sentença contra Brígida Bishop, que, a rigor, não havia cometido outro pecado que o de ser três vezes viúva e administrar uma taberna, nas margens do pitoresco porto de Salem, Massachusetts, onde as horas passavam divertidas.

Mas, depois de Brígida, morriam na forca três mulheres mais, e, logo, outras, e mais outras, até 18 terem sido as condenadas. Na realidade essas martirizadas criaturas eram tão inocentes quantas outras duzentas pessoas que foram metidas nos cárceres pelo mesmo tribunal. Uma série de absurdos, de denúncias e exóticas provas testemunhais, inspiraram os juízes.

Desceu sobre Massachusetts uma orgia de furor. Desencadeou-se um delírio de morte, e entre os anos de 1691 e 1692, os cárceres transbordaram de desgraçados suspeitos de relações com o Diabo; a forca foi 18 vezes erguida, e até um ancião, de 80 anos de idade, foi martirizado de maneira pavorosa, até o último alento de vida.

Dois séculos e meio depois, consideradas as tristes ocorrências como as mais inconcebíveis infâmias da história judicial do Estado de Massachusetts, a legislatura local procurou lavar a mancha sinistra, proclamando a inocência de todos os acusados. A iniciativa partiu, já em nossos dias, do próprio Senado, atendendo inédita petição dos descendentes de Ana Pudeator, uma das mulheres sacrificadas.

Examinada a história incrível das execuções, que relembraremos em seguida, o Congresso daquele Estado norte-americano aprovou a proclamação de inocência, mais com aquele fim do que para restituir a honra — e já então para que? — à memória dos mortos e mártires...

Continua em  Morte às Bruxas - Parte 2


Fonte: Artigo adaptado e atualizado de “A Noite Ilustrada”, de 30/07/1946.

O Segredo do Castelo de Glamis

Lord Strathmore quando foi buscar vinho

Quando o segundo filho do rei George casou com lady Elizabeth Bowes-Lyon, filha do conde de Strathmore, teria a noiva revelado o terrível segredo do castelo de Glamis, o qual, durante gerações e gerações foi conservado entre a família Glamis?

Todos os velhos castelos da Europa têm as suas lendas de monstros, almas penadas, quartos secretos, etc., mas o velho solar de Glamis tem a sua história real e misteriosa. E a verdadeira lenda é tão assombrosa que o velho lorde Strathmore, avô da esposa do duque de York, interrogado por seus amigos, disse-lhes:

"Se vocês suspeitassem a natureza do terrível mistério, agradeceriam a Deus, de joelhos, por deixá-los na ignorância..."

Quando, durante a guerra, esse famoso castelo foi posto à venda, ninguém se apresentou para comprá-lo e, certo, pessoa alguma o quereria habitar, ainda que lhe dessem de graça, tais as histórias de monstros, almas e duendes que diziam assombrar as criptas, cavernas e subterrâneos do berço dos Glamis.

Mesmo o prudente Walter Scott, que em 1794, passou uma noite no famoso castelo, diz que ali se sentia a carne arrepiar de horror. Walter Scott não fala em coisas sobrenaturais, mas diz que realmente havia algo de misterioso que assustava.

O conde de Crawford referindo-se à velha casa senhorial diz que só dois herdeiros podiam conhecer bem o verdadeiro segredo do quarto mal-assombrado: o lorde e seu filho mais velho. Por morte do lorde, o filho contava ao seu herdeiro primogênito, e assim por diante, de maneira que só duas pessoas ficavam de posse da horrível verdade.

O atual lorde Strathmore tem um filho, que, na natural ordem de sucessão, herdará o castelo e o segredo. É de supor que esse rapaz tenha contado a lenda à irmã, lady Bowes-Lyon, a qual, provavelmente, a transmitirá ao marido — o duque de York.

Serão duas lendas? Assim deve ser, pois a de 1794, referida por Walter Scott, não pode ser a mesma que recentemente ainda assombrava o pai do atual conde.

Pelos arredores de Glamis corre a lenda de que o quarto secreto foi construído, outrora, para um monstro que nasce na família, de cem em cem anos, como punição de antigo crime. Esse monstro é mantido no quarto secreto até morrer, para que o mundo ignore o castigo horrível que pesa sobre os Glamis.

Conta a lenda que o monstro tem a forma de uma rã e que, na noite em que ele morre, todas as rãs dos charcos da vizinhança se reúnem em volta do castelo de Glamis, aos milhares. Elas começam a coaxar dolorosamente, como a carpir a companheira que expira com a qual tem um parentesco sobrenatural.

A lenda do homem-rã nasceu de um trecho da história do próprio castelo, que conta que, em 1537, a jovem viúva do quinto lorde de Strathmore foi queimada, apesar de inocente, por suspeitarem de ela estar mancomunada com o diabo na prática de feitiçarias.

Mais de uma pessoa do distrito, afirma que o monstro existiu e até se referem ao seu tamanho descomunal e à sua ferocidade. Perguntarão como foi possível a essa gente saber o que se passava dentro do quarto mal-assombrado, Mas a resposta é simples: um criado encarregado de guardar a adega do castelo viu, de uma feita, o monstro horrendo, no momento em que o lorde abria a porta do quarto, julgando que ali não estivesse o seu empregado. Daí por diante foi impossível arranjar quem quisesse tomar o cargo de guarda do depósito de vinhos.

Foi assim que uma vez, quando o pai do atual conde estava sem criado de adega, depois de um jantar dado por ele a alguns amigos, faltou vinho, e o conde, em pessoa, foi buscá-lo. Demorou-se tanto, porém, no subterrâneo, que os seus amigos, assustados, foram procurá-lo. Chegaram à porta da casa dos vinhos mo momento em que ele dali saía, fechando, violentamente, a porta por onde passara. Ele trazia as vestes despedaçadas, o rosto ensanguentado e a fisionomia contraída, com todos os sinais de quem lutara desesperadamente.

Quem lhe fizera tanto mal? O castelão não o disse aos seus amigos e, além disso, pediu que não o interrogassem a esse respeito.

No dia seguinte a essa cena, o lord suplicou aos hóspedes que lhe fizessem o favor de ficar nos seus quartos até ouvirem o sino do castelo tocar. Todos acederam a esse pedido, e só três quartos de hora mais tarde o sino tocou, libertando-os do compromisso tomado. Eles ficaram convencidos de que a imprudente e misteriosa criatura do castelo Glamis tinha mais poder para produzir danos físicos do que qualquer mera alma penada.

Quem poderia ter causado tais prejuízos e ofensas senão o monstruoso morador do quarto mal-assombrado? Não há dúvida que existe qualquer segredo tenebroso no castelo de Glamis. O lugar do quarto trágico só é conhecido pelo conde e seu filho primogênito, herdeiro do solar e do título.

Contam que o avô do atual conde, não contente com a lenda do quarto, e querendo desvendar o segredo antes que o pai lhe contasse, reuniu diversos amigos que com ele tinham jantado e, em procissão ruidosa, foi pelo corredor que conduzia ao quarto lendário. Em uma das mãos carregava uma lâmpada e na outra a chave que descobrira escondida na secretária do pai. Um dos presentes descreveu assim a cena que presenciou e que foi relatada pelo dr. Lee, amigo desse hóspede indiscreto:

"Ele abriu a porta, levantou a lâmpada e começou a entrar no quarto. Ainda não havia dado dois passos quando soltou um grito medonho e caiu nos nossos braços, completamente desacordado! Foi a fisionomia mais horrorizada que jamais vi! Nunca se conseguiu que ele falasse sobre o assunto, tal o horror de que ficou possuído!".

Isso se passou com o avô de lady Bowes-Lyon. Ele transmitiu o segredo ao filho, e esse, por sua vez, teve a confirmação no dia em que foi buscar a garrafa de vinho na adega. Por duas vezes os hóspedes do lord tentaram desvendar o mistério do quarto do subterrâneo, mas de ambas foram mal sucedidos. Da primeira vez a tentativa foi feita por umas moças destemidas, que combinaram deixar, nas janelas dos seus quartos, as toalhas de rosto, e depois foram para o prado observar qual a janela que não tinha toalha, pois essa devia ser a procurada. O lorde ficou furioso e, no dia seguinte, todas elas receberam ordem de deixar o castelo. O mesmo aconteceu a um médico que, surpreendido fazendo pesquisas, deram-lhe os seus honorários e a passagem de volta...

O atual lorde Strathmore, décimo - quarto desse nome, reconhecido em 1876, no dia do seu reconhecimento, foi chamado por seu pai para ser informado e ver o segredo do castelo: voltou dessa conferência tão horrorizado que não teve mais alegria durante todo o resto da recepção, assim contaram os jornais da Escócia. Seja como for, um dos habitantes do quarto secreto morreu em 1885, pois o jornal Edimburgh Scotsman, que é um dos mais sérios e abalizados, seu a seguinte notícia: "Faleceu, na idade de 84 anos, lorde Thomas Glamis". Entretanto, na lista dos pares não havia a menor referência a esse lorde, o que leva a crer que ele fosse um dos monstros encarcerados da família do velho solar escocês.

A esposa do duque de York saberá do segredo? Ou o pai teria tido pena e poupou à jovem o horror desse espetáculo?


Fonte: Revista "Fon Fon" - Dezembro/1923