terça-feira, 31 de maio de 2016

Cadáveres Incorruptos

Bernadette Soubirous morreu em 1879, aos 35 anos.

Ao som da última trombeta, os mortos ressuscitarão incorruptíveis.— 1 Coríntios 15:52

Definição: A incorruptibilidade é a ausência de decomposição em cadáveres humanos ou partes de corpos por semanas, meses e até mesmo anos (algumas vezes, séculos), mais notavelmente em corpos enterrados sem embalsamamento e em covas onde se esperaria uma rápida deterioração.

O que os crentes dizem: Cadáveres incorruptos são um sinal de Deus com respeito à santidade do falecido e também um chamado para que os devotos busquem essa santidade.

O que os céticos dizem: A incorruptibilidade é uma combinação de vários fatores mundanos, biológicos e geológicos, nenhum dos quais de natureza divina. A temperatura, a quantidade de oxigênio e a ausência ou presença de fungos e bactérias representam seu papel no tempo que um corpo leva para se decompor. Além disso, é possível que a Igreja Católica tenha embalsamado em segredo muitos dos "incorruptos" a fim de promover uma grande aceitação de sua divindade.

Qualidade das provas existentes: Moderada.

Probabilidade de o fenômeno ser autêntico: Moderada.

A carne apodrece.

Assim que a essência da vida é removida de um corpo, a precipitação rumo à decomposição é inevitável. Tão logo o fluxo de sangue quente, cheio de oxigênio, para de fluir, e os órgãos do corpo são privados de sua condição sine qua non, não tarda para que o corpo seja absorvido pela biosfera, dessa vez pelo lado inanimado do paradigma vida e morte.

Com certeza, essa decomposição pode ser evitada pelo embalsamamento, refrigeração e sepultamento em túmulos livres de oxigênio. Alguns corpos exumados, enterrados há milhares de anos, mostram uma preservação notável.

Mas a carne apodrece. E, no final, tudo o que vive um dia irá morrer, e tudo o que está morto se tornará pó. Pode levar éons ou até mais, como podemos ver ao encontrarmos corpos intactos de mastodontes pré-históricos, preservados apenas por terem sido rapidamente congelados logo após a morte.

Há muito, a Igreja Católica permite a veneração de corpos, e até mesmo de partes, como mãos ou corações de santos já falecidos.

Um dos incorruptos mais venerados é santa Bernadete Soubirous, a santa para quem, segundo os registros, a Virgem Maria apareceu em Lourdes, na França, em 1858. Bernadete morreu em 1879, aos 35 anos. Ela foi enterrada do modo como morreu, sem ser embalsamada ou preservada de forma alguma.

O corpo de Bernadete foi exumado em 1909, 30 anos após sua morte. Segundo testemunhas, quase não havia sinal de decomposição, além do fato de o corpo estar um pouco "emaciado". Seus lábios haviam encolhido ligeiramente, de modo que os dentes ficavam parcialmente visíveis, e o nariz também encolhera um pouco. Segundo os registros, suas mãos estavam perfeitamente conservadas e a pele era de um branco fosco. O rosário que ela segurava havia enferrujado. Suas roupas estavam úmidas, mas o corpo não exalava nenhum cheiro de putrefação. As freiras removeram sua indumentária, lavaram o corpo e vestiram-na com um hábito limpo. Ela então foi novamente enterrada, junto com um documento detalhando as especificidades da exumação.

Dez anos depois, com o processo da canonização de Bernadete correndo a todo vapor (ela foi, por fim, canonizada em 1925), seu corpo foi mais uma vez exumado. Ele encontrava-se no mesmo estado que dez anos antes, exceto por uma leve descoloração do rosto, fato atribuído à lavagem durante a primeira exumação. Bernadete foi novamente enterrada na presença do bispo.

Em 1925, o ano de sua canonização, o corpo de Bernadete foi exumado pela última vez.

Dessa vez, ele não seria novamente enterrado, mas exibido para que todos os devotos pudessem vê-la e venerá-la.

Uma fina máscara de cera foi colocada sobre seu rosto e mãos, visto que os olhos e as bochechas haviam encolhido um pouco. Há também rumores de que injetaram fluido embalsamador em seu corpo para prevenir uma futura decomposição, embora não haja provas quanto a isso. Tampouco as declarações sob juramento de médicos, freiras e testemunhas, coletadas após as exumações, mencionam qualquer espécie de proteção, afora a lavagem do corpo.

No entanto, além da lavagem e da preparação do corpo para exibição, os médicos, a pedido do bispo de Nevers, realizaram também uma autópsia em Bernadete. Eles removeram a parte de trás das quinta e sexta vértebras, pedaços do diafragma e do fígado (o qual, segundo os registros, mostrava-se macio, com uma consistência "quase normal"), as duas rótulas e fragmentos dos músculos externos das coxas. Todos esses pedaços foram considerados relíquias sagradas e entregues à Igreja Católica.

Bernadete foi então colocada sob uma redoma de vidro fechada a vácuo e exposta na capela do Convento de Saint Gildard, em Nevers, na França. Seu corpo permanece ali até hoje, mais de 75 anos depois, ainda em perfeito estado, "incorrupto".

Seria a incorruptibilidade de Bernadete um sinal de Deus?

Os crentes dizem "sem dúvida". Os céticos: "Dificilmente. Sua preservação decorre de condições fortuitas à época do primeiro sepultamento e, para os que acreditam em conspiração, da possibilidade de que 'a simples lavagem' do corpo seja 'qualquer coisa, menos isso'."

Todavia, as explicações científicas não satisfazem totalmente os curiosos. Há relatos de corpos enterrados sob condições extremamente "favoráveis à decomposição" — túmulos escavados em solo úmido, enlameado etc. — e de corpos de santos que permanecem intactos, sem o menor sinal de deterioração.

Os santos católicos não são os únicos que permanecem incorruptos após a morte. Há registros de homens e mulheres considerados santos em outras religiões que foram encontrados em perfeito estado após várias décadas enterrados.

Um sinal de Deus? Ou apenas um acaso feliz da biologia que ainda não entendemos?

A resposta a essa questão depende — quase totalmente — de para quem você pergunta.


Fonte: Os 100 Maiores Mistérios do Mundo - Stephen J. Spugnesi - Difel 2004

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