sábado, 21 de maio de 2016

Immanuel Velikovsky e suas Teorias


Os gregos, assim como os carianos e outros povos do litoral do mar Egeu, contavam sobre uma época em que o Sol desviara-se de seu curso e desaparecera por um dia inteiro … A perturbação no movimento do Sol durou um dia, durante o qual ele não apareceu hora nenhuma. Ovídio continua: "Se formos acreditar nos registros, um dia inteiro se passou sem sol. Só que o mundo ardente continuou a brilhar."

Definição: Velikovsky declarou que as antigas histórias mitológicas eram relatos metafóricos de eventos cosmológicos reais.

O que os crentes dizem: O trabalho de Velikovsky é legítimo; ele abriu novos caminhos, mas foi injustamente criticado pela comunidade científica.

O que os céticos dizem: O trabalho de Velikovsky não tem embasamento científico e nada mais é do que especulação fantasiosa sem nenhuma evidência que lhe dê suporte. Seus seguidores são bajuladores mal informados.

Qualidade das provas existentes: Fraca.

Probabilidade de o fenômeno ser autêntico: Nenhuma.

Parece uma trama ruim de um filme de ficção científica.

Há 3.500 anos, parte de Júpiter desprendeu-se do planeta e saiu voando pelo espaço como um cometa gigantesco. Esse cometa atravessou nosso sistema solar esbarrando nos planetas, tirando-os de suas órbitas, fazendo-os adquirir novas rotações, e passou perto o suficiente da Terra, a ponto de nos envolver em sua cauda gasosa. A poeira da cauda do cometa Vênus provocou incêndios e pragas na Terra, e, por fim, sua gravidade fez com que nosso planeta parasse de girar sobre o próprio eixo e só recomeçasse tempos depois. Como se pode esperar de um evento cosmológico tão devastador, a Terra vivenciou maremotos, terremotos, erupções vulcânicas e cataclismos geológicos, incluindo o naufrágio da Atlântida e a implosão de gigantescas montanhas. Além disso, em sua trajetória, o cometa Vênus também tirou Marte de sua órbita, fazendo com que ele quase colidisse com a Terra diversas vezes. Esses eventos galácticos inacreditáveis fizeram o Sol desaparecer e os dias e noites durarem muito mais do que o normal.

O cometa Vênus então se solidificou, transformando-se num orbe planetário, passou pela Terra e fixou sua órbita onde hoje se encontra o segundo planeta do sistema solar.

No entanto, nada disso foi retirado de um romance ou filme de ficção científica. Esse relato sobre a formação de nosso sistema solar foi apresentado como fato científico por Immanuel Velikovsky, exceto que os argumentos de sustentação dessa teoria bizarra são qualquer coisa, menos científicos. Velikovsky utilizou lendas antigas, mitos e a tradição escrita para chegar a conclusões que literalmente chocaram o mundo e criaram enormes controvérsias no universo científico.

Segundo a teoria geológica do catastrofismo, grandes alterações na crosta terrestre decorrem de catástrofes súbitas — terremotos, erupções vulcânicas, deslocamento das placas tectônicas etc. —, e não de mudanças e processos evolucionários graduais. Essa teoria foi apresentada originalmente no século XVIII pelo barão Georges Cuvier, um naturalista francês, mas, por volta do século XIX, foi descartada por muitos em prol da crença nos processos lentos e progressivos como os responsáveis pelas principais alterações geológicas na Terra.

Immanuel Velikovsky (1895-1979), médico, psicanalista e astrônomo nascido na Rússia, ressuscitou o catastrofismo em 1950 ao publicar seu primeiro livro, "Worlds in Collision". Ele aplicou a teoria ao Cosmo, especificamente aos eventos que resultaram na formação de nosso sistema solar tal como o conhecemos hoje.

Em seu best-seller, Velikovsky diz que o planeta Vênus não existia até 1500 a.C. e que originalmente ele fora um cometa que se desprendera do planeta Júpiter.

Velikovsky estudou escritos muito antigos, inclusive o Velho Testamento e os mitos da China, Índia, Grécia e Roma, e chegou a conclusões científicas interpretando os eventos descritos nessas lendas e mitos como ambiciosas tentativas dos antigos em descrever eventos cosmológicos reais.

Por exemplo, a mitologia grega conta a história de Atena, a deusa da sabedoria e da guerra, que saiu já adulta da cabeça de Zeus, o soberano dos céus. Velikovsky chegou à dúbia conclusão de que Atena era o planeta Vênus, Zeus, o planeta Júpiter, e a lenda, uma metáfora usada pelos antigos gregos para descrever o cometa que se desprende de Júpiter e acaba fixando sua órbita como Vênus.

Robert Todd Carroll, ao escrever seu "Dicionário do cético", resume o problema das teorias rebeldes do russo:

"A essência da irracionalidade de Velikovsky está no fato de que ele não oferece nenhuma prova científica para suas alegações mais absurdas. Elas se baseiam na hipótese de que a mitologia descreve fatos cosmológicos. Em geral, ele não oferece evidência alguma que sustente sua teoria além de argumentos engenhosos oriundos de uma mitologia comparada. Sem dúvida, o cenário pintado é logicamente possível, no sentido de que não apresenta contradições. Para ser cientificamente plausível, porém, a teoria de Velikovsky precisa apresentar alguma razão convincente para que a aceitemos, além do fato de que ela ajuda a explicar alguns dos eventos descritos na Bíblia, ou por associar as lendas maias às egípcias."

A comunidade científica não respondeu muito bem à publicação de "Worlds in Collision".

O livro foi publicado originalmente pela Macmillan, uma editora com uma divisão de livros didáticos. Muitos dos autores de livros didáticos e editores da Macmillan boicotaram a empresa depois da publicação do livro de Velikovsky, recusando-se a trabalhar com livros didáticos até que ela rejeitasse o cientista. A editora voltou atrás e cedeu o contrato de Velikovsky à Doubleday, a qual não tinha uma seção de livros didáticos.

Teorias e ideias controversas são lugar-comum na arena científica, e as de Velikovsky poderiam ser fácil e calmamente descartadas pelos especialistas do campo, exceto por um detalhe inesperado: o grande sucesso de seus livros. Com "Worlds in Collision" ocupando o primeiro lugar na lista de mais vendidos do mundo, ele não podia ser tão facilmente descartado. Suas teorias ainda são objeto de debate, e mesmo seus mais ferrenhos opositores admitem, irritados, que ele acertou em algumas coisas, inclusive no fato de Júpiter emitir ondas de rádio, de as rochas lunares serem magnéticas e de Vênus girar sobre o próprio eixo em sentido contrário.

Um grande amigo meu visitou Velikovsky em sua casa em 1979, o ano da morte do cientista russo. Meu amigo se lembra de que o estudioso, então com 84 anos, era um homem quieto, quase taciturno, um intelectual diligente que parecia estar fazendo um inventário de sua vida e obra, um desafiador das convenções que mantinha uma profunda fé e confiança em suas crenças. Talvez as décadas de zombaria estivessem cobrando o preço de Velikovsky no ocaso de sua vida. "Não me lembro de tê-lo visto sorrir nem uma única vez durante minha visita", disse meu amigo. 


Fonte: Os 100 Maiores Mistérios do Mundo - Stephen J. Spugnesi - Difel 2004

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