sábado, 20 de fevereiro de 2016

Rabdomancia Arqueológica


Os rabdomantes normalmente trabalham segurando varinhas de condão ou galhos de amoreira em suas mãos, esperando que eles se curvem perto de fonte de água ou de veio de minérios preciosos. Mas essa técnica pode ser empregada não somente nesses dois casos.

J. Scott Elliot, militar inglês da reserva e rabdomante, usa tal habilidade como apoio para a descoberta de sítios arqueológicos. Muitas vezes, ele nem precisa visitar as regiões que deseja sondar, porque as localiza segurando apenas um galho de amoreira sobre o mapa.

Um de seus trabalhos mais bem-sucedidos foi reportado em 1969, quando aplicou a varinha de condão para prever que grande sítio arqueológico seria descoberto sob uma cabana na cidade de Swinebrook.

Os escavadores do lugar mostraram-se céticos, pois Scott Elliot mencionara uma cidade em que não haviam sido encontrados nem vestígios. Isso se deu seis meses antes de efetuarem escavações no local, e, é claro, o sítio apontado pela varinha de condão foi descoberto de imediato.

Ao realizarem um corte de 1,50 por 3 metros, os escavadores descobriram caldeirões, ossos e algumas peças de cerâmica. Quando o sítio foi mais cuidadosamente explorado, em 1970, encontraram o piso de uma estrutura e até mesmo seu núcleo.

Dois artefatos polidos da Idade do Bronze coroaram o sensacional achado.


Fonte: Livro «O Livro dos Fenômenos Estranhos» de Charles Berlitz

O Aço de Damasco


Entre os numerosos métodos mágicos da antiguidade, um dos mais famosos era o processo de endurecimento de espadas de aço - muito comum em Damasco entre os séculos 12 e 14 -, que consistia em enfiar a lâmina superaquecida no corpo de um prisioneiro ou escravo e, em seguida, em água fria.

Na Idade Média, os cavaleiros cristãos aprenderam, para sua angústia, que as espadas feitas com o aço de Damasco eram mais resistentes e também mais duras do que as fabricadas na Europa.

No entanto, quinhentos anos após as Cruzadas, experiências realizadas na Europa indicaram que o processo, afinal de contas, não tinha nada de mágico. Os europeus descobriram que enfiar a espada em brasa em uma massa de peles de animais encharcadas de água tinha efeito similar ao método damasceno.

O nitrogênio orgânico que se desprende das peles na água produz reação química no aço.


Fonte: Livro «O Livro dos Fenômenos Estranhos» de Charles Berlitz

As Bruxas Bascas

"Aquelarre" - palavra criada pelos inquisidores para nomear presumíveis reuniões clandestinas (Goya, 1798)

Os julgamentos de bruxas bascas ocorreram no século XVII, representando a tentativa mais ambiciosa já vista em extirpar a feitiçaria, empreendida pela Inquisição espanhola.

Esse processo em Logroño, perto de Navarra, no norte da Espanha, que começou em janeiro de 1609, contra o fundo de perseguições semelhantes realizados em Labourd por Pierre de Lancre, foi quase certamente o maior evento de seu tipo na história. Até o final do século, cerca de 7.000 casos tinham sido examinados pela Inquisição.

Embora Logroño não seja uma cidade basca, foi o cenário para um tribunal de inquisição responsável pelo Reino de Navarra, Álava, Guipúscoa, Biscaia, La Rioja e partes do norte de Burgos e Sória. Entre os acusados não estavam apena mulheres (embora tenha sido o gênero predominante), mas também crianças e homens, incluindo padres acusados de criarem amuletos com nomes de santos.

A primeira fase terminou em 1610, com uma declaração de auto-de-fé contra trinta e um dos acusados, doze ou onze dos quais foram queimados até a morte (cinco deles simbolicamente, como haviam morrido antes do auto-de-fé).

Posteriormente, o processo foi suspenso até que os inquisidores tiveram a chance de reunir mais provas, sobre o que eles acreditavam ser um culto das bruxas generalizado na região basca. Alonso de Salazar Frías, um inquisidor júnior e um advogado por formação, foi responsável de examinar o assunto. Armado com um Édito de Graça, prometendo perdão a todos aqueles que, voluntariamente, relatassem e denunciassem seus cúmplices, ele viajou por todo o campo durante o ano de 1611, principalmente nas imediações do Zugarramurdi, junto à fronteira franco-espanhola.

Alonso também passou por uma caverna onde, alegadamente, existia uma corrente de água (Olabidea ou Infernuko erreka, "stream do Inferno"), que foi dito ser o lugar de encontro das bruxas.

Como era habitual em casos deste tipo, várias denúncias foram feitas. Frías finalmente voltou a Logroño com "confissões" de, ao menos, 2.000 pessoas, 1.384 das quais eram crianças entre as idades de sete e quatorze anos, implicando em mais de 5.000 indivíduos nomeados bruxos. A maioria das denúncias (cerca de 1.802) foram confissões à tortura. As provas reunidas cobriam 11.000 páginas no total.


Wikipédia 

Referências: Inquisición at the Auñamendi Encyclopedia. Nómina at the Diccionario de la Real Academia Española. Erik Midelfort, H. C. (1983). "Vol. 88, No. 3, Jun., 1983". The American Historical Review [S.l.: s.n.] 88 (3): 692–693. JSTOR 1864648

O Sabá das Bruxas - Parte 2

Bruxas no Sabá - Gravura do "Compendium Maleficarum", Francesco Maria Guazzo, 1608

O Sabá — Democrático...

O encontro reunia uma multiplicidade de gente, de ambos os sexos, classes sociais diferentes, burgueses e nobres e também eclesiásticos, bispos, cardeais! No Sabá havia mesas com toda sorte de iguarias; carnes, vinhos.

O diabo presidia o festim em sua usual forma de bode, com cauda simiesca e fisionomia humana. Os convivas faziam homenagens; ofereciam suas almas ou partes do corpo e como sinal de adoração, beijavam o traseiro de Satanás.

O local era iluminado por tochas. O Abade Sem Juízo, mencionado acima, era o mestre de cerimônias desses encontros e era sua obrigação verificar devidamente o comportamento dos novatos. Depois, ele pisava e cuspia na cruz, menosprezava Jesus e a Santíssima Trindade e praticava outros atos profanos.

Então, tomavam seus lugares à mesa e depois de comer e beber, levantavam-se e começavam seus promíscuos intercursos sexuais nos quais o demônio tomava parte assumindo, alternadamente, a forma de ambos os sexos de acordo com sua parceria. Seguiam-se todo tipo de atos pecaminosos.

O Demônio "catequizava" seus seguidores: não deviam ir à igreja e muito menos ouvir a missa; não deviam se deixar tocar pela água-benta nem render qualquer homenagem ou demonstração de respeito pelos valores cristãos e pelos cristãos em si mesmos. Quando o "sermão" terminava a assembleia era dissolvida e todos retornavam para suas casas.


Fonte: The Witches' Sabbath — O Sabá das Bruxas de Thomas Right | tradução & adaptação: ligiacabus

O Sabá das Bruxas - Parte 1

Les Sabbats - Claude Gillot, pintor francês (Langres 1673–1722 Paris)

Muitas formas de cultos fálicos ou priápicos foram praticados na Idade Média conservando, ainda que através de mudanças sociais e em outras circunstâncias, as antigas orgias priápicas no contexto de intensa superstição que caracterizava a bruxaria da época.

Através dos tempos, os "Iniciados" acreditaram que poderiam possuir e exercer poderes sobrenaturais pela invocação apropriada de divindades que o Cristianismo transformou em demônios; ser um devoto de Príapo era o mesmo que ser devoto de Satanás.

As bruxas dos Sabás foram as últimas praticantes da Priapéia e da Liberália na Europa Ocidental e, de fato, reproduziam em suas reuniões as licenciosas orgias tão comuns na Roma Antiga. O Sabá das Bruxas não parece ter sido originado da mitologia teutônica [bárbara, nórdica, anglo-saxã]. Antes, parecem provenientes do sul europeu, herança mediterrânea absorvida pelos países fortemente influenciados pela cultura romana. No século XV a cultura da feitiçaria tinha uma forte presença na Itália e na França.

O Caso Robinet de Vaulx

Em meados daquele século [XV], em França, um indivíduo chamado Robinet de Vaulx, que levara uma vida de eremita em Burgundy, foi preso, levado a julgamento em Langres e queimado.

Antes de morrer, entretanto, este homem, natural de Artois, informou [certamente sob tortura, método comum nos processos de bruxaria da época] ser de seu conhecimento a existência de um grande número de bruxas na província e ele não somente confessou ter comparecido às assembleias noturnas das feiticeiras, mas, também, forneceu nomes de vários habitantes de Arras que encontrara naqueles eventos.

Corria o ano de 1459, o quartel general dos jacobinos, monges pregadores, era sediado em Langres. Entre os jacobinos havia um Pierre de Broussart, inquisidor da Santa Sé na cidade de Arras que presidiu os depoimentos de Robinet. Com os nomes fornecidos o inquisidor começou sua perseguição.

Foram acusados de bruxaria, entre outros: uma prostituta chamada Demiselle, e um homem, Jehan Levite, mais conhecido por seu apelido, Abade Sem Juízo. A confissão de um induzia ao processo que resultava na confissão dos outros e novos nomes surgiam. O resultado foi um surto de prisões e processos, muitos encerrados com sentença de morte na fogueira.

Foi apurado que o lugar dos encontros era, geralmente, uma fonte na floresta de Mofflaines, uma légua de distância de Arras. Os participantes podiam ir a pé mas o procedimento mais comum era um recurso mágico: usando um unguento fornecido pelo próprio diabo que, passado no corpo ou nas mãos, permitia, montar num bastão ou cajado, de madeira, e nele voar até o lugar da assembleia [é a vassoura dos bruxos].


Fonte: The Witches' Sabbath — O Sabá das Bruxas de Thomas Right | tradução & adaptação: ligiacabus

Inspiração Divina

Giordano Bruno condenado à morte na fogueira pela Inquisição romana.

Há um pensamento quase geral que fé e ciência sempre viveram em pé de guerra. Afinal, a história desse conflito é marcada por casos como o do filósofo Giordano Bruno, queimado vivo pela Inquisição em 1600, e o do astrônomo Galileu Galilei, recolhido a prisão domiciliar até sua morte, em 1642. Alguns estudiosos do tema, no entanto, afirmam que isso não passa de mito. Na verdade, eles dizem, razão e religião sempre estiveram "amarradas" - muitas vezes com uma se alimentando da outra.

"A relação entre os dois lados é extremamente complexa, varia conforme a época e o lugar", diz o americano Ronald L. Numbers, professor da Universidade de Wisconsin. Numbers é o organizador do livro Galileo Goes to Jail - And Other Myths about Sciencie and Religion ("Galileu Vai Para a Cadeia - E Outros Mitos sobre Ciência e Religião"). Ele não nega que, ao longo da história, a Igreja censurou, reprimiu, condenou. Mas aponta momentos de extrema aproximação - até de colaboração - entre os dois lados. A crença em Deus inspirou cientistas, enquanto instituições religiosas apoiaram pesquisas e universidades.

Segundo o pesquisador americano, movimentos religiosos surgidos com a Reforma Protestante, no século 16, foram mais abertos a ideias científicas do que a Igreja Católica, cujo Tribunal do Santo Ofício - leia-se Inquisição - condenava qualquer questionamento de sua doutrina. Mas até a Igreja assumiu posturas contraditórias: por um lado, censurou teorias como a do heliocentrismo (o Sol no centro do sistema solar), defendida por Nicolau Copérnico e Galileu; por outro, financiou os primeiros estudos de astronomia. Galileu nunca deixou de ser católico e Copérnico era cônego.

"Nenhum cientista perdeu a vida por causa de suas visões científicas", afirma Numbers. "Alguns, como Giordano Bruno, foram queimados pela Inquisição, mas por causa de suas ideias teológicas." De acordo com o pesquisador, Bruno defendia abertamente o heliocentrismo, mas só foi parar na fogueira porque, entre outras heresias, duvidava da concepção da Virgem Maria e da identificação de Cristo com Deus. Ao afirmar que o Universo era infinito e continha vários mundos, também afrontou o dogma cristão de que os humanos são criações únicas, feitas à imagem do Criador.

Durante 600 anos (da Baixa Idade Média ao Iluminismo), a Igreja Católica financiou mais o estudo da astronomia do que qualquer outra instituição. Quem afirma é o historiador da ciência John Heilbron, da Universidade da Califórnia. No livro The Sun in the Church ("O Sol na Igreja"), ele afirma que muitas catedrais até serviram de observatórios. Foi numa delas - a Basílica de San Petronio, em Bolonha, na Itália - que, em 1665, o astrônomo Gian Cassini confirmou que a órbita dos planetas é elíptica - tal como o alemão Johannes Kepler havia descrito décadas antes.

"A Igreja também apoiou universidades. Em 1500, havia 600 delas na Europa, e 30% do currículo cobria geometria, ótica e assuntos relacionados ao mundo natural", diz o historiador da Michael H. Shank, da Universidade de Wisconsin. "Se a Igreja medieval queria reprimir a ciência, ela cometeu um erro colossal ao tolerar e apoiar universidades." O apoio, no entanto, era seletivo, e também atendia aos interesses da Santa Sé. Ao fomentar o conhecimento, ela podia simultaneamente controlar o que era ensinado aos estudantes, enquanto censurava certos livros pelo suposto atentado à fé e à moral que eles representavam.

Muitos cientistas se inspiraram em crenças religiosas para conduzir suas pesquisas. Um deles foi o inglês Isaac Newton, que estabeleceu as bases da ciência moderna. Anglicano, o formulador da Lei da Gravitação Universal dizia que aprender sobre Deus é o primeiro passo para quem se dedica à "filosofia natural" - como a ciência era chamada no século 17. Kepler também encontrava motivação em sua fé protestante - e acabou descrevendo as leis da mecânica celeste.

"Assim como Kepler e Newton, diversos cientistas do século 17 diziam que haviam sido levados a investigar a natureza porque, assim, descobririam mais sobre Deus", diz o pesquisador Ronald Numbers. O argumento era simples: estudando-se o universo natural, aprendia-se tanto sobre Deus quanto lendo a Bíblia - já que Ele era o autor de ambas.


Texto de Eduardo Szklarz

Corpos Incorruptíveis


Imediatamente após a morte de S. Francisco Xavier, a 2 de dezembro de 1552, meteram o seu corpo num caixão cheio de cal viva para que, o mais rapidamente possível, a sua carne fosse consumida e se pudesse assim levar os seus ossos para Goa.

A 17 de Fevereiro de 1553, as autoridades religiosas indianas abriram o caixão com a convicção de aí encontrarem tão somente os restos do Santo. Mas eis que ao retirar a cal que lhe cobria o rosto, este apresentava o aspecto rosado, tendo a frescura de alguém apenas adormecido. O corpo estava completamente intacto, sem qualquer sinal de decomposição.

Para confirmação do estado em que se encontrava o cadáver, foi-lhe retirado um pequeno pedaço de carne acima do joelho, começando imediatamente a sangrar. Transportado por mar, foi enterrado em Malaca, a 22 de março de 1553.

Mas o miraculoso fenômeno não ficou por aqui e, como que causado por uma força misteriosa, alguns meses depois mantinha o mesmo estado da incorruptibilidade. Transportado para Goa, foi sepultado na igreja de S. Paulo. Em 1612, quando se lhe amputou um dos braços para ser enviado para Roma, o sangue correu vermelho e fluido!
Nos Evangelhos, assim como no Antigo Testamento, o sangue é portador do espírito de Deus. No jardim das Oliveiras, na Noite Divina, Jesus suou sangue como se o Espírito sangrasse e sofresse.

Durante a ceia que precede a hora em que se entregaria, Ele tomou o cálice e dando graças o abençoou e deu aos seus discípulos dizendo: «Tomai e bebei todos, este é o meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança...»

Na cruz, sangue e água escorreram do lado que fora trespassado pela lança do centurião. E a terra foi inundada pelo seu Espírito.

O caso dos corpos incorruptíveis de santos evoca a presença misteriosa do Espírito sob a forma de suor de sangue jamais coagulado, sempre fluido dentro e fora do corpo. Ele umedece o cadáver, transfigura-o, ilumina-o, conserva-o intacto. Vários fenômenos inexplicáveis envolvem muitas vezes o milagre: aparecimento de luz à volta do túmulo, exalações perfumadas, curas de doentes. O cadáver de um santo resplandece, vibra, envia moléculas de luz. Ele cria como que uma zona sagrada onde, tudo pode acontecer.

Em 1582, Santa Teresa d’ Ávila morre na sua cela do convento de Alba de Tormes. O rosto de Santa Teresa de Jesus, segundo afirmou a duquesa d’Alba, ficou após a morte lindo e resplandecente, dir-se-ia como Sol brilhando. Metido num caixão cheio de cal e tijolos, foi o corpo transportado ao cemitério. Mas no dia seguinte à sua morte, do túmulo de Santa Teresa de Jesus emanava um perfume de tal forma intenso e delicioso que os monges teriam tido a sensação de estarem de novo na presença da sua Madre.

Abriu-se o túmulo a 4 de julho de 1583. A tampa do caixão estava partida, meia apodrecida e cheia de bolor. Era forte o cheiro a bafio e as vestes encontravam-se putrefatas. O santo corpo, também ele, tinha bolor, mas mantinha a frescura como se tivesse sido enterrado na véspera.

As monjas despiram-na quase totalmente, para a vestirem de novo. Segundo afirmaram, um maravilhoso odor se espalhou pelo convento.

Em novembro de 1585, três anos passados sobre a sua morte, os médicos de A vila examinaram o corpo, tendo chegado à conclusão de que apenas um milagre, e não uma causa natural, teria permitido que um corpo fechado três anos (sem estar embalsamado) se mantivesse intacto, continuando a exalar o mesmo perfume de sempre.


Fonte: Os Vampiros - Jean-Paul Bourre - Publicações Europa-América (1986)

Os Santos e os Condenados


Em numerosos casos de vampirismo, a abertura do túmulo revela um cadáver em perfeito estado de conservação «pele fina e flexível, corpo sem alteração».

Este prodígio do após morte não é uma vaga superstição dominada pelo medo aos vampiros. Um corpo enterrado desde há séculos não é mais que um magma informe de pó de terra e de ossos. É a lei da decomposição do corpo do mortal. Uma das grandes leis da natureza: Todas as coisas perecem, voltam à terra, tornando-se pó e cinzas. No entanto, em certos casos o corpo aparece intacto ou quase.

Os cientistas explicam este fenômeno como sendo causado pela composição do terreno onde está enterrado o cadáver, as variações de temperatura do subsolo, a ausência de insetos ou de roedores que provocam uma proteção natural, impedindo o seu apodrecimento. Simples hipóteses científicas quando se conhecem outros fenômenos que acontecem na incorruptibilidade de certos cadáveres: um perfume agradável do corpo, suor de sangue, humores do cadáver, luminosidades na parte superior da sepultura, como aconteceu quando Charbel morreu, com a idade de 78 anos, no seu eremitério do Líbano.

Tanto milagre que a natureza química do terreno não pôde explicar! Há toda uma lógica que não pertence a este mundo.

Os santos e santas do cristianismo apresentam muitas vezes um bom estado de conservação quando passaram séculos sobre o dia da sua inumação. Uma vez mais, os não mortos, os nosferatu do vampirismo passam por cima dos milagres do mundo cristão. Os cultos demoníacos imitaram sempre a magia e os prodígios da religião, como por exemplo na missa negra que não é senão uma inversão da missa cristã, um derrubar da liturgia, das orações do culto.

O não morto, intacto no seu túmulo, aparece, pois, nas superstições como uma espécie de Santo diabólico que, também ele, apresenta os mesmos sintomas de imortalidade, incorruptibilidade, suor de sangue umedecendo todo o corpo, fenômenos luminosos à volta do túmulo.

Mais que por pura imitação, eles, os adeptos do vampirismo foram mais longe e para dar forma aos seus não mortos e sugadores de sangue ter-se-iam servido mesmo dos milagres do mundo cristão.

Para as pessoas ingênuas, os casos de incorruptibilidade não serão exclusivos dos santos, pois que também os adeptos do diabo podem ser alvo de tal milagre, uma vez que Deus não existe sem a ameaça dos infernos que tantas vezes os padres focam e a que chamam «condenação eterna».

Também a religião tem o seu inferno, os seus demônios, os seus padres malditos. Basta que aconteça uma maldição e logo das entranhas da Terra se libertarão espíritos malignos cujas forças em muito ultrapassarão as dos homens. Apareciam assim os vampiros tão reais quanto os santos do paraíso...

Em cada família havia lugar para Deus na Igreja da aldeia, e um outro para o demônio por entre os túmulos do velho cemitério. O Bem e o Mal nunca deixaram de partilhar a alma humana, como a luz e as trevas, o excelente e o vil, o amor e o ódio. O vampirismo nasceu desta oposição.

Terá sido preciso a existência de grandes ascetas do deserto, e figuras espirituais como S. João da Cruz ou Simeão o novo teólogo, para entender que a humildade em Deus nos salva e Deus é um Deus de Luz, que enche o universo, destrói a morte e o seu cortejo de demônios e não deixa lugar à obscuridade.

O medo fixa-se sempre no espírito do homem, e raros são os que fizeram esta experiência estática da luz. O medo, quando anoitece, tranca as portas. Ele força que se recitem salmos, pedindo auxílio. O coração contraído não deixa entrar a luz e o medo cria então as suas obsessões, os seus fantasmas.


Fonte: Os Vampiros - Jean-Paul Bourre - Publicações Europa-América (1986)