domingo, 19 de novembro de 2017

Adubando o Solo ou Viva o Crematório


É o final de tudo (ou começo de alguma coisa?). Você é posicionado em seu túmulo sob os lamentos da família e dos amigos para aproveitar seu descanso eterno. Mas espere: há ainda uma última tarefa. Uma derradeira contribuição que você fará ao planeta.

Ao morrermos, passamos a fornecer ao solo uma variedade de elementos químicos – arrancados do nosso corpo pelo processo natural de decomposição. Por conta disso, minerais bem importantes à vida, como ferro, zinco, enxofre, cálcio e fósforo, acabam também morrendo com a gente. Isso porque seu potencial ficará concentrado apenas na área ocupada pelos cemitérios.

É isso mesmo. Por baixo daquele cenário macabro, com lápides a perder de vista, há um gigantesco canteiro inexplorado. A riqueza de nutrientes presente no solo dos cemitérios é capaz de melhorar o rendimento e a qualidade do que quer que seja plantado lá – as vistosas melancias de mais de 3kg que nasceram espontaneamente em um cemitério no interior do Paraná são provas vivas disso.

E esses efeitos são apenas dinamizados a cada novo corpo depositado nas covas, defendeu Ladislav Smejda, pesquisador da Czech University of Life Sciences, em uma conferência da União Europeia de Geociências: “Talvez esse não seja um problema no atual momento, mas o aumento global da população pode torná-lo um problema para o futuro”.

A solução? Práticas funerárias menos egocêntricas. Sem cemitérios, os restos mortais humanos e seus nutrientes seriam distribuídos naturalmente pelo ambiente – e aproveitados por um número bem maior de seres vivos. Ao garantir comodidade aos parentes escolhendo um endereço fixo para toda a eternidade, estamos obedecendo apenas a nossa própria lógica.

“Na natureza, nada se perde, nada se cria; tudo se transforma”, já bem disse Lavoisier lá no século 18. Nada mais justo que, como forma de pagamento por todos os recursos utilizados, você retorne ao solo em forma de minerais – quem sabe isso compense um pouco a pegada ecológica que você deixou para trás.


Fonte: Superinteressante

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